TEXTO
INFORMATIVO
Diversidade
cultural
Os estados que compõem a
região Nordeste são: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,
Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Esse complexo regional apresenta grande
diversidade cultural, composta por manifestações diversificadas. Portanto,
serão abordados alguns dos vários elementos culturais da região em destaque:
O carnaval é o evento popular mais famoso do Nordeste, especialmente em Salvador, Olinda e Recife. Milhares de turistas são atraídos para o carnaval nordestino, que se caracteriza pela riqueza musical e alegria dos foliões.
O carnaval é o evento popular mais famoso do Nordeste, especialmente em Salvador, Olinda e Recife. Milhares de turistas são atraídos para o carnaval nordestino, que se caracteriza pela riqueza musical e alegria dos foliões.
Carnaval de Olinda
O coco também é conhecido por
bambelô ou zamba. É um estilo de dança muito praticado nos estados de Alagoas,
Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A dança é uma expressão do desabafo
da alma popular, da gente mais sofrida do Nordeste brasileiro. É uma dança de
roda ou de fileiras mistas, de conjunto, de pares, que vão ao centro e desenvolvem
movimentos ritmados.
O maracatu é originário de Recife, capital de Pernambuco, surgiu durante as procissões em louvor a Nossa Senhora do Rosário dos Negros, que batiam o xangô, (candomblé) o ano inteiro. O maracatu é um cortejo simples, inicialmente tinha um cunho altamente religioso, hoje é uma mistura de música primitiva e teatro. Ficou bastante conhecido no Brasil a partir da década de 1990, com o movimento manguebeat, liderado por Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, entre outros.
O Reisado, ou Folia de Reis, é uma manifestação cultural introduzida no Brasil colonial, trazida pelos colonizadores portugueses. É um espetáculo popular das festas de natal e reis, cujo palco é a praça pública, a rua. No Nordeste, a partir do dia 24 de dezembro, saem os vários Reisados, cada bairro com o seu, cantando e dançando. Os participantes dos Reisados acreditam ser continuadores dos Reis Magos que vieram do Oriente para visitar o Menino Jesus, em Belém.
As festas juninas representam um dos elementos culturais do povo nordestino. Essa festa é composta por música caipira, apresentações de quadrilhas, comidas e bebidas típicas, além de muita alegria. Consiste numa homenagem a três santos católicos: Santo Antônio, São João e São Pedro. As principias festas juninas da região Nordeste ocorrem em Caruaru (PE) e Campina Grande (PB).
O maracatu é originário de Recife, capital de Pernambuco, surgiu durante as procissões em louvor a Nossa Senhora do Rosário dos Negros, que batiam o xangô, (candomblé) o ano inteiro. O maracatu é um cortejo simples, inicialmente tinha um cunho altamente religioso, hoje é uma mistura de música primitiva e teatro. Ficou bastante conhecido no Brasil a partir da década de 1990, com o movimento manguebeat, liderado por Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, entre outros.
O Reisado, ou Folia de Reis, é uma manifestação cultural introduzida no Brasil colonial, trazida pelos colonizadores portugueses. É um espetáculo popular das festas de natal e reis, cujo palco é a praça pública, a rua. No Nordeste, a partir do dia 24 de dezembro, saem os vários Reisados, cada bairro com o seu, cantando e dançando. Os participantes dos Reisados acreditam ser continuadores dos Reis Magos que vieram do Oriente para visitar o Menino Jesus, em Belém.
As festas juninas representam um dos elementos culturais do povo nordestino. Essa festa é composta por música caipira, apresentações de quadrilhas, comidas e bebidas típicas, além de muita alegria. Consiste numa homenagem a três santos católicos: Santo Antônio, São João e São Pedro. As principias festas juninas da região Nordeste ocorrem em Caruaru (PE) e Campina Grande (PB).
Festa junina em Campina Grande (PB)
Bumba meu boi é um festejo que
apresenta um pequeno drama. O dono do boi, um homem branco, presencia um homem
negro roubando o seu animal para alimentar a esposa grávida que estava com
vontade de comer língua de boi. Matam o boi, mas depois é preciso ressuscitá-lo.
O espetáculo é representado por um boi construído em uma armação de madeira
coberta de pano colorido. Ao final, o boi é morto e em seguida ressuscitado.
O frevo surgiu através da capoeira, pois o capoeirista sai dançando o frevo à frente dos cordões, das bandas de música. É uma criação de compositores de música ligeira, especialmente para o carnaval. Com o passar do tempo, o estilo ganhou um gingado composto por passos soltos e acrobáticos.
Quilombo é um folguedo tradicional alagoano, tema puramente brasileiro, revivendo a época do Brasil Colônia. Dramatiza a fuga dos escravos que foram buscar um local seguro para se esconder na serra da Barriga, formando o Quilombo dos Palmares.
A capoeira foi introduzida no Brasil pelos escravos africanos e é considerada uma modalidade de luta e também de dança. Rapidamente adquiriu adeptos nos estados nordestinos, principalmente na Bahia e Pernambuco. O instrumento utilizado durante as apresentações de capoeira é o berimbau, constituído de arco, cabaça cortada, caxixi (cestinha com sementes), vareta e dobrão (moeda).
O frevo surgiu através da capoeira, pois o capoeirista sai dançando o frevo à frente dos cordões, das bandas de música. É uma criação de compositores de música ligeira, especialmente para o carnaval. Com o passar do tempo, o estilo ganhou um gingado composto por passos soltos e acrobáticos.
Quilombo é um folguedo tradicional alagoano, tema puramente brasileiro, revivendo a época do Brasil Colônia. Dramatiza a fuga dos escravos que foram buscar um local seguro para se esconder na serra da Barriga, formando o Quilombo dos Palmares.
A capoeira foi introduzida no Brasil pelos escravos africanos e é considerada uma modalidade de luta e também de dança. Rapidamente adquiriu adeptos nos estados nordestinos, principalmente na Bahia e Pernambuco. O instrumento utilizado durante as apresentações de capoeira é o berimbau, constituído de arco, cabaça cortada, caxixi (cestinha com sementes), vareta e dobrão (moeda).
Roda de Capoeira
A festa de Iemanjá é um
agradecimento à Rainha do Mar. A maior festa de Iemanjá ocorre na Bahia, no Rio
Vermelho, dia 2 de fevereiro. Todas as pessoas que têm “obrigação” com a Rainha
do Mar se dirigem para a praia. Nesse evento cultural há o encontro de todos os
candomblés da Bahia. Levam flores e presentes, principalmente espelhos, pentes,
joias e perfumes.
Lavagem do Bonfim é uma das maiores festas religiosas populares da Bahia. É realizada numa quinta-feira do mês de janeiro. Milhares de romeiros chegam ao Santuário do Senhor do Bonfim, considerado como o Oxalá africano. Existem também promessas católicas de “lavagens de igrejas”, nas quais os fiéis lavam as escadarias da igreja com água e flores.
O Candomblé consiste num culto dos orixás que representam as forças que controlam a natureza e seus fenômenos, como a água, o vento, as florestas, os raios, etc. É de origem africana e foi introduzido no país pelos escravos negros, na época do Brasil colonial. Na Bahia, esse culto é chamado de candomblé, em Pernambuco, nomeia-se xangô, no Maranhão, tambor de menina.
Lavagem do Bonfim é uma das maiores festas religiosas populares da Bahia. É realizada numa quinta-feira do mês de janeiro. Milhares de romeiros chegam ao Santuário do Senhor do Bonfim, considerado como o Oxalá africano. Existem também promessas católicas de “lavagens de igrejas”, nas quais os fiéis lavam as escadarias da igreja com água e flores.
O Candomblé consiste num culto dos orixás que representam as forças que controlam a natureza e seus fenômenos, como a água, o vento, as florestas, os raios, etc. É de origem africana e foi introduzido no país pelos escravos negros, na época do Brasil colonial. Na Bahia, esse culto é chamado de candomblé, em Pernambuco, nomeia-se xangô, no Maranhão, tambor de menina.
Candomblé
A Literatura de Cordel é uma
das principais manifestações culturais nordestinas, consiste na elaboração de
pequenos livros contendo histórias escritas em prosa ou verso, sobre os mais
variados assuntos: desafios, histórias ligadas à religião, política, ritos ou
cerimônias. É o estilo literário com o maior número de exemplares no mundo.
Para os nordestinos, a Literatura de Cordel representa a expressão dos costumes
regionais.
A culinária do Nordeste é bem diversificada e destaca-se pelos temperos fortes e comidas apimentadas. Os pratos típicos são: carne de sol, buchada de bode, sarapatel, acarajé, vatapá, cururu, feijão-verde, canjica, tapioca, peixes, frutos do mar, etc. As frutas também são comuns, como por exemplo: manga, araçá, graviola, ciriguela, umbu, buriti, cajá e macaúba.
O artesanato da região Nordeste é muito variado, destacam-se as redes tecidas, rendas, crivo, produtos de couro, cerâmica, madeira, argila, as garrafas com imagens produzidas de areia colorida, os objetos feitos a partir da fibra do buriti, entre outros.
A culinária do Nordeste é bem diversificada e destaca-se pelos temperos fortes e comidas apimentadas. Os pratos típicos são: carne de sol, buchada de bode, sarapatel, acarajé, vatapá, cururu, feijão-verde, canjica, tapioca, peixes, frutos do mar, etc. As frutas também são comuns, como por exemplo: manga, araçá, graviola, ciriguela, umbu, buriti, cajá e macaúba.
O artesanato da região Nordeste é muito variado, destacam-se as redes tecidas, rendas, crivo, produtos de couro, cerâmica, madeira, argila, as garrafas com imagens produzidas de areia colorida, os objetos feitos a partir da fibra do buriti, entre outros.
Por wagner de cerqueira e
francisco
O movimento negro no Brasil
Influenciada pela luta anti-racismo na África e nos Estados Unidos, a
militância brasileira cresceu nos anos 1970 e hoje colhe grandes conquistas
Verena Alberti e Amilcar Araujo Pereira
O Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em 13 de junho de 1964
com a finalidade de coordenar as atividades de informação e contra-informação
em todo o país, produziu inúmeros relatórios sobre assuntos julgados
pertinentes à Segurança Nacional durante o regime militar. Num deles, de 14 de julho
de 1978, podemos encontrar um relato sobre a manifestação, nas escadarias do
Teatro Municipal de São Paulo, daquilo que se tornaria mais adiante o Movimento
Negro Unificado (MNU), uma das entidades do movimento negro surgidas no Brasil
na década de 1970.
Realizou-se em São Paulo, no dia 7 julho de 1978, na área fronteiriça ao
Teatro Municipal, junto ao Viaduto do Chá, uma concentração organizada pelo
autodenominado “Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial”, integrado
por vários grupos, cujos objetivos principais anunciados são: denunciar,
permanentemente, todo tipo de racismo e organizar a comunidade negra. Embora
não seja, ainda, um “movimento de massa”, os dados disponíveis caracterizam a
existência de uma campanha para estimular antagonismos raciais no País e que,
paralelamente, revela tendências ideológicas de esquerda. Convém assinalar que
a presença no Brasil de Abdias do Nascimento, professor em Nova Iorque,
conhecido racista negro, ligado aos movimentos de libertação na África, contribuiu,
por certo, para a instalação do já citado “Movimento Unificado”.
Esse documento, que se encontra no Arquivo Ernesto Geisel, depositado no
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC)
da Fundação Getulio Vargas, não é o único produzido pelos órgãos de informação
da época sobre a atividade de militantes e organizações do movimento negro. Mas
ele nos ajuda a situar a atuação desse movimento social na História do Brasil,
mais especificamente no contexto da abertura política, iniciada em 1974. Desde
o início da década de 1970, é possível registrar a formação de entidades que,
como diz o relatório do SNI, buscavam denunciar o racismo e organizar a
comunidade negra. Por exemplo, o Grupo Palmares, criado em Porto Alegre em 1971;
o Centro de Estudos e Arte Negra (Cecan), aberto em São Paulo em 1972; a
Sociedade de Intercâmbio Brasil-África (Sinba), inaugurada no Rio de Janeiro em
1974, e o Bloco Afro Ilê Aiyê, fundado em Salvador também em 1974. Militantes
de algumas dessas e de outras entidades articularam-se em 1978 para a
realização do ato público ao qual o documento do SNI se refere. Sua motivação
teve origem no assassinato do jovem negro Robson Silveira da Luz, no distrito
policial de Guaianazes, para onde tinha sido levado preso, acusado de roubar
frutas numa feira, e na discriminação sofrida por quatro meninos negros
impedidos de treinar vôlei no time infantil do Clube de Regatas Tietê.
A manifestação contou com a presença de Abdias do Nascimento, militante
de longa data, que em 1968 havia se exilado nos Estados Unidos, onde foi
professor em várias universidades. O fato de ser apontado como “conhecido
racista negro” pelo relatório do SNI é um dado interessante e pode ser
explicado pela forte atuação do movimento negro, naquela época, no sentido da
denúncia do chamado “mito da democracia racial”, isto é, da idéia de que não
haveria racismo no Brasil. Como Abdias do Nascimento, de acordo com o SNI,
denunciava um racismo “inexistente”, ele mesmo seria racista. Outro documento,
de janeiro do mesmo ano de 1978, advertia: “Esses movimentos, caso continuem a
crescer e se radicalizar, poderão vir a originar conflitos raciais”.
As organizações formadas na década de 1970 não foram as primeiras na
história do país. Logo depois da abolição, no final do século XIX, já
circulavam jornais voltados para as populações negras, como o Treze de Maio, do
Rio de Janeiro (1888), e O Exemplo, de Porto Alegre (1892). Em São Paulo, a
chamada “imprensa negra paulista” denunciava, nos anos 1920, a discriminação
racial. Dela surgiram alguns dos fundadores da Frente Negra Brasileira, em
1931, que chegou a se transformar em partido político em 1936, mas logo foi
extinta, como os demais partidos, pelo Estado Novo no ano seguinte. Na década
de 1940 foram fundadas várias entidades, como a União dos Homens de Cor e o
Teatro Experimental do Negro.
Muitos dos documentos desse período mostram que não era rara a
circulação de referenciais e informações de fora do Brasil, principalmente da
África e dos Estados Unidos. O jornal O Clarim d’Alvorada, publicado de 1924 a
1932 em São Paulo, abrigava uma seção intitulada “O mundo negro”, na qual eram
publicadas traduções de artigos do jamaicano Marcus Garvey (1887-1940),
defensor do pan-africanismo. O jornal Quilombo, fundado por Abdias do
Nascimento em 1948, reproduzia com freqüência artigos da revista Présence
Africaine, publicada em Paris e Dacar a partir de 1947, sob a direção do
senegalês Alioune Diop. Nos anos 1960, esse intercâmbio se intensificou diante
das lutas de libertação das colônias africanas e da mobilização pelos direitos
civis nos Estados Unidos. Como se viu no documento reproduzido acima, Abdias do
Nascimento oferecia perigo, segundo os investigadores do SNI, porque estava
“ligado aos movimentos de libertação na África”.
As idéias que circulavam entre os militantes nos anos 1970 e 1980 e suas
formas de ação – como o ato público realizado em São Paulo em 1978 – foram
objeto da pesquisa “História do movimento negro no Brasil: constituição de
acervo de entrevistas de história oral”, que desenvolvemos no CPDOC entre 2003
e 2007. A metodologia da história oral, que consiste na realização de
entrevistas gravadas com testemunhos do passado, permite o registro de
narrativas de experiência pessoal e o conhecimento de formas de articulação e
de visões de mundo de pessoas e grupos.
Essas entrevistas nos permitiram perceber que, além dos poetas de língua
francesa, que continuaram a ser lidos e discutidos, e da luta contra o
apartheid, regime de segregação racial que vigorou na África do Sul entre 1948
e 1992, outro assunto que mobilizava as atenções era a independência dos países
africanos de colonização portuguesa – Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe –, ocorrida entre 1974 e 1975, poucos anos antes do
ato público nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. É recorrente, por
exemplo, a menção aos Poemas de Angola, de Agostinho Neto, fundador do
Movimento Popular de Libertação de Angola e primeiro presidente do país, em
1975.
Muitas vezes, essas leituras são lembradas como cruciais para a
conscientização do entrevistado e para sua opção pela militância. A descoberta
de si mesmo como negro se mesclava a uma tomada de posição política, levando a
atitudes que, nos dias de hoje, já não têm o mesmo peso. O simples ato de
comprar uma revista, por exemplo, era decisivo. Foi o que nos contou Carlos
Alberto Medeiros, militante do movimento negro no Rio de Janeiro desde a década
de 1970:
Eu trabalhava no Jornal do Brasil, que era na Avenida Rio Branco 110. Eu
passava lá e via revistas estrangeiras nas bancas de jornal. E havia uma
revista da qual eu já ouvira falar no Rio Grande do Sul, a revista Ebony. Eu
passava, via a revista, tinha até alguma curiosidade. Mas até para comprar a
revista a primeira vez eu tive que romper com alguma coisa. Porque comprar uma
revista de negros tinha um significado de identificação. Eu já tinha um domínio
do inglês que dava para ler. Até que um dia eu comprei. E era final da segunda
metade de 1969, na época em que estava aquela coisa do black is beautiful, do
cabelo afro. E aquilo foi quase um amor à primeira vista. Bati o olho e falei:
“É isso que falta.”
Publicações do gênero influenciavam a formação e a disseminação de uma
consciência da negritude. Magno Cruz, importante referência do movimento no
Maranhão desde o início dos anos 1980, relata como foi atingido por essa
estratégia inicial. Em 1979, ele chegou a assinar a ata de criação do Centro de
Cultura Negra (CCN) local, a convite de sua fundadora, Mundinha Araújo. Mas levou
certo tempo até atuar como militante:
Eu sou fundador fictício, porque não fui fundador orgânico que estava lá
no início, nas primeiras reuniões. Qual era a minha resistência em me engajar
no trabalho do CCN? Eu não me considerava negro. Inclusive o meu apelido na
faculdade era Moreno. E eu era crente que eu era moreno. Pensava: como ia
participar de uma entidade do movimento negro se eu não me considerava negro?
Mas, com os seminários e com as palestras, que houve muito, eu fui mudando. A
Mundinha deu o encaminhamento que eu acho que foi o melhor possível, porque foi
de formação. As primeiras reuniões eram reuniões de estudo. Era uma sala,
talvez um pouquinho maior do que essa aqui; quando iam mais de 30 pessoas,
tinha que ficar gente do lado de fora. E era texto para a gente ler, jornal
para a gente ler, para discutir, livros… Ninguém sabia nada sobre a história do
negro. E aí, com esses cursos, esses seminários de que eu fui participando, eu
fui percebendo que era negro.
A essa estratégia de mobilização somavam-se várias outras, como a adoção
do penteado afro, a produção de audiovisuais, jornais e panfletos, a difusão de
informações em feiras e locais públicos, a montagem de peças de teatro e a
organização de grupos de dança e de blocos afro. Encontros estaduais e
regionais estimulavam o crescimento do movimento negro. Em agosto de 1980,
ocorreu o I Encontro Memorial Zumbi, em Alagoas, com a presença de líderes
nacionais, como Abdias do Nascimento e a antropóloga Lélia Gonzalez
(1935-1994). O evento impulsionou a realização dos Encontros de Negros do Norte
e Nordeste, iniciados no ano seguinte. A partir de meados da década de 1980,
registram-se outros encontros em diferentes estados, além dos Encontros de
Negros do Sul-Sudeste e dos Encontros Estaduais e Nacionais de Mulheres Negras.
O I Encontro Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas, realizado em
1995, deu origem à Comissão Nacional de Articulação das Comunidades Rurais
Quilombolas, criada em 1996.
A metodologia da história oral permite conhecer não só como essas
iniciativas ocorreram na prática, mas também de que modo, a partir delas, as
reivindicações do movimento negro acabaram sendo trazidas pelos militantes para
a esfera pública. Trata-se, pois, de uma ferramenta importante para o estudo da
história política. Hoje existem diversas secretarias voltadas para a promoção
da igualdade racial, no governo federal e em governos estaduais e municipais, e
novos artigos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB de 1996,
que tornam obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas
escolas do país e incluem o dia 20 de novembro no calendário escolar como “Dia
Nacional da Consciência Negra”.
Aliás, o primeiro ato evocativo de celebração do 20 de novembro, dia da
morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, foi realizado pelo Grupo Palmares, de
Porto Alegre, em 1971. Passados sete anos, a segunda assembléia nacional do
MNU, realizada em Salvador em novembro de 1978, declarou a data o “Dia Nacional
da Consciência Negra”, que hoje é feriado em mais de duzentos municípios do
país. Este é um exemplo bastante evidente do trabalho de disputa pela memória
nacional, que culminou com a inscrição do nome de Zumbi no livro dos heróis da
pátria, em 20 de novembro de 1996.
Outra possibilidade aberta pela realização de pesquisas de história oral
é o acesso a experiências e interpretações do passado que não são
necessariamente aquelas consagradas por uma “história nacional”. Esse
pluralismo é facilmente compreendido quando percebemos que as entrevistas nos
apresentam novas periodizações. Do ponto de vista de nossos entrevistados, a
repercussão nacional do ato público nas escadarias do Teatro Municipal de São
Paulo, em 1978, possibilitou a criação de muitas organizações em diferentes
estados do país e acabou sendo responsável pela difusão da noção de “movimento
negro” como designação genérica para as diversas entidades e ações a partir
daquele momento.
O marco seguinte foi o ano de 1988, por duas razões: comemorava-se o
centenário da Abolição, o que motivou uma série de ações de protesto que
denunciavam as condições de vida dos negros no país, e elaborava-se uma nova
Constituição. Duas importantes reivindicações do movimento viraram texto
constitucional – a criminalização do racismo (Artigo 5) e o reconhecimento da
propriedade das terras de remanescentes de quilombos (Artigo 68 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias). Os anos de 1995 e 2001 são os dois
momentos seguintes. Em 1995 foi realizada em Brasília uma marcha em homenagem
aos trezentos anos da morte de Zumbi dos Palmares. Era o primeiro ano do
governo Fernando Henrique Cardoso, que criou então um Grupo de Trabalho
Interministerial para a Valorização da População Negra, dando a partida nas
primeiras iniciativas de ação afirmativa na administração pública federal. E
2001 foi o ano da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, realizada na
cidade de Durban, na África do Sul, que mobilizou o governo e as entidades do
movimento negro em sua preparação e resultou em novos acontecimentos, como a
reserva de vagas para negros em algumas universidades do país e novos
compromissos assumidos pelo Estado em âmbito internacional.
O estudo da História se enriquece quando conhecemos novas periodizações,
atuações e experiências, mas isso não significa que podemos esquecer os marcos
nacionais. A história do movimento negro no Brasil não deve ser entendida como
“descolada” da história contemporânea, tanto do Brasil como do mundo. Os marcos
aqui registrados fazem sentido para o movimento negro e também para a história
nacional, pois se relacionam com conjunturas como a abertura política, o
centenário da Abolição, a Constituinte e o governo Fernando Henrique Cardoso,
entre outros. Eles tiram sentido desses contextos e emprestam-lhes novos
sentidos. Esta é a riqueza da história oral.
E convém não esquecer que, no próprio universo pesquisado, as
trajetórias e opiniões nunca são unânimes. Em nossa pesquisa, ouvimos pessoas
de diferentes regiões e muitas vezes de posições divergentes, o que permite
perceber a pluralidade de experiências e avaliações entre os próprios
militantes. Mas não há dúvida de que todos tiveram por objetivo o combate ao
racismo e a luta pela melhoria das condições de vida das populações negras.
Verena Alberti é pesquisadora do Programa de História Oral do CPDOC da
Fundação Getulio Vargas e professora de História da Escola Alemã Corcovado, no
Rio de Janeiro.
Amilcar Araujo Pereira é doutorando em História na Universidade Federal
Fluminense (UFF) e bolsista do CNPq. Ambos são organizadores do livro Histórias
do movimento negro no Brasil (Rio de Janeiro: Pallas, 2007).
Saiba Mais –
Livros:
HANCHARD, Michael. Orfeu e o poder: o movimento negro no Rio de Janeiro
e em São Paulo (1945-1988). Rio de Janeiro: EdUerj, 2001.
LEITE, José Correia. …E disse o velho militante José Correia Leite:
depoimentos e artigos. Organização e textos: Cuti (Luiz Silva). São Paulo:
Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
PEREIRA, Amauri Mendes. Trajetória e perspectivas do movimento negro
brasileiro. Rio de Janeiro: Comissão de Combate às Discriminações e
Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, 2005.
SANTOS, Joel Rufino dos. “A luta organizada contra o racismo”. In:
Barbosa, Wilson do Nascimento (org). Atrás do muro da noite; dinâmica das
culturas afro-brasileiras. Brasília: Ministério da Cultura, Fundação Cultural
Palmares, 1994.
Luta do Negro
O Movimento Negro Brasileiro
Nos
períodos seguintes surgiriam novas expressões do movimento negro, desde grupos
alinhados à política burguesa até os movimentos independentes ligados à classe
operária
5 de abril de 2009
5 de abril de 2009
O movimento negro surgido no
início da crise da República Velha, expressa pelos marinheiros liderados por
João Cândido na Revolta da Chibata, foi a primeira expressão da organização dos
negros no Brasil desde o fim da abolição da escravidão. Nos períodos seguintes
surgiriam novas expressões do movimento negro, desde grupos alinhados à
política burguesa até os movimentos independentes ligados à classe
operária
O período que se seguiu à
forçada abolição da escravatura pela princesa Isabel aprofundou a discriminação
e a opressão no negro nos séculos seguintes.
Como instrumento organizado
contra o racismo e por suas liberdades democráticas, a partir do início do
século vão se desenvolver nas cidades as primeiras organizações de luta pelos
direitos dos negros, com base nos exemplos históricos do Quilombos dos
Palmares, da Revolta dos Búzios entre outras, cuja experiência demonstrou que
somente o negro organizado é capaz de obter resultados em sua luta contra a
opressão do Estado capitalista.
Um dos principais e mais
importantes demonstrações no início do século XX foi a Revolta da Chibata em
1910, quando o marinheiro negro João Cândido liderou um movimento que colocou a
República Velha de joelhos.
Apesar de ter sido abolido
oficialmente os castigos corporais, a Marinha brasileira continuava punindo os
marinheiros, na maioria negros, com violência física a golpes de chibatadas. No
dia 22 de novembro de 1910, o marinheiro Marcelino Rodrigues foi punido com 250
chibatadas, assistida por toda a tripulação do navio. Este foi o estopim para a
maior rebelião ocorrida dentro das Forças Armadas brasileiras até hoje e uma
das maiores do mundo.
Liderado pelo marinheiro negro
João Candido, o navio de guerra Minas Gerais foi o primeiro a se sublevar,
seguido pelo São Paulo e pelo Cruzador Bahia, centenas de marinheiros negros se
insurgiram contra os oficiais e seus superiores prendendo-os e em alguns casos
matando os que resistiam à revolta dos marinheiros.
Os marinheiros queriam o fim
das chibatadas e a mensagem encaminhada às autoridades brasileiras era bem
clara “Não queremos a volta da chibata. Por isso, pedimos ao presidente da
República, ao ministro da Marinha, queremos resposta já e já. Caso não
tenhamos, bombardearemos a cidade e navios que não se revoltarem”.
Uma após outra quase toda, a
poderosa esquadra da marinha brasileira foi se insurgindo, ficando às ordens do
jovem marinheiro João Candido e os demais líderes da revolta, tendo também
grande apoio da população.
Lideranças liberais da
política burguesa, como o senador abolicionista Rui Barbosa, Campos Sales,
Bernardino Monteiro e Sá Freire, além do deputado José Carlos de Carvalho,
mesmo não apoiando a revolta, eram a favor de uma negociação com os amotinados,
assustados com as conseqüências da mobilização.
Depois de intensos debates,
são aprovadas sobre forte pressão as principais reivindicações dos marinheiros,
entre elas a anistia para todos os marinheiros que participaram da revolta,
inclusive os que estiveram envolvidos nas mortes dos oficiais, além do fim das
chibatadas.
Em 25 de março, com as suas
principais reivindicações atendidas, os cerca de três mil rebeldes resolvem
terminar o levante, mesmo com a oposição de muitas outras esquadras, que
insistiam em continuar a revolta em razão do grande apoio tinham.
Escola Municipal Darcy
Ribeiro
Dirigentes Escolares: Ana
Claudia Gomes / Liliane Lima
Coordenadora Pedagógica:
Danúbia Santos
Encontro Pedagógico de
ACs- Atividade Complementar
Data: 28/09/2012
A
imprensa negra
Após o levante dos
marinheiros, o movimento negro tentará de diversas formas se organizar, montado
associações, clubes e jornais especialmente dirigido à população negra. Entre
1903 e 1963 vão surgir em todo o país mais de 20 jornais escritos por negros,
dentre os quais A Rua e o Xauter, em 1916, o Alfaiate em 1918, A Liberdade e o
Bandeirante em 1919, A Sentinela em 1920, e o Kosmo, no ano seguinte. Além
destes, surgiram no interior do movimento muitos outros títulos - O Getulino, O
Clarim da Alvorada, Elite, Auriverde, Patrocínio, Progresso, A Chibata, A Raça,
a Tribuna Negra etc.
Com uma imprensa independente,
negros em sua maioria procedentes da classe operária passaram a reivindicar e
fazer do jornal a tribuna das reivindicações específicas dos negros.
No início da década de 30, a
cidade mais industrializada do país, São Paulo, possuía uma população de pouco
mais de 922 mil habitantes, das quais 100 mil eram negros vivendo em condições
extremamente precárias e em fétidos cortiços. Em um contexto de extrema
opressão contra as condições de vida, o movimento negro vai se destacar em
âmbito nacional, com ações principalmente voltadas para movimentos culturais,
bem-estar social e integração da população negra na sociedade.
A
Frente Negra Brasileira
A Frente Negra Brasileira foi
um dos principais movimentos do início do século. Criada em 16 de setembro de
1931 tendo como principais líderes, José Correia Leite, Arlindo Veiga dos
Santos, Francisco Lucrécio e Raul Joviano, a Frente Negra foi um movimento de
repercussão nacional, tendo sede nos principais estados do país, como São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Espírito Santo,
Maranhão e Sergipe.
Em São Paulo, sua sede era
instalada na rua da Liberdade, local onde fica atualmente a Casa de Portugal.
Segundo a organização, ela chegou a reunir cerca de 60 mil filiados em seis
anos de existência.
Durante a Revolução
Constitucionalista, a Frente Negra se recusou a apoiar qualquer um dos lados, o
que vai ocasionar uma dissidência, formando-se a Legião Negra, que vai lutar do
lado dos paulistas na revolução.
Em 1933 a organização funda o
jornal A Voz da Raça, periódico de caráter nacionalista, muitas vezes comparado
ao programa do Movimento Integralista de extrema-direita, fazendo críticas à
União Soviética e exaltando palavras-de-ordem como “Deus, Pátria, Raça e
Família”.
O presidente da Frente,
Arlindo Veiga Santos, era monarquista e integrava também o Centro Monarquista
de Cultura Social e Política Pátria Nova, defensor assíduo da volta da coroa no
Brasil.
Em 1936, a Frente Negra
Brasileira se registra como um partido, lançando candidatos negros em algumas
cidades do país. Com a instauração do Estado Novo em 10 de dezembro de 1937,
Getúlio Vargas coloca na ilegalidade todos os partidos.
Com a sistemática repressão
atingindo todas as organizações políticas, a Frente Negra se vê obrigada a
mudar seu nome para União Negra Brasileira. Perdendo muito dos seus filiados
com o aumento da repressão, ela é obrigada a mudar a sua sede de local, o que
vai ser considerado o fim da Frente Negra Brasileira.
O
Movimento Negro Unificado
Depois do fim da ditadura do
Estado Novo, pouca coisa vai se destacar no movimento negro brasileiro, o que
vai se agravar ainda mais com o golpe militar de 1964 e a repressão a todos os
movimentos políticos e sociais.
Em meados da década de 70 e
com a crise da ditadura, as questões raciais passam a ser discutidas nas
universidades, surgindo em 8 de dezembro de 1975 o Grêmio de Arte Negra e a
Escola de Samba Quilombo.
No ano seguinte entrava em
discussão a criação de um movimento negro de caráter nacional, sendo criado
pouco tempo depois o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial
(MNUCDR), posteriormente MNU - Movimento Negro Unificado.
Em 7 de Julho de1978 o MNU vai
realizar a sua primeira manifestação pública, tendo como motivo o racismo
sofrido por quatro jovens negros no time juvenil de voleibol do clube de
Regatas do Tietê, proibido de participar do clube, além da morte de em
trabalhador negro, torturado e morto por policiais. A manifestação teve o apoio
de diversas outras entidades negras e contou com cerca de três mil pessoas
desafiando os militares. Essa manifestação é considerada como o início do
movimento negro contemporâneo.
O estrangulamento da luta
contra a ditadura conduziu, também, ao estrangulamento e à cooptação dos
movimentos negros dos anos 70 que hoje integram o governo Lula e se dedicam a
uma atividade sem maiores conseqüências revolucionárias.
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Afro-brasileiro ou negro
são os termos oficiais no Brasil que designam racialmente e de acordo com a cor
as pessoas que se definem como pertencentes a esse
grupo. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística usa o nome preto como nome
oficial para essa cor/raça, sendo ela uma das cinco definições oficiais
usadas pelo povo brasileiro para se definir, junto com branco,
pardo,
amarelo
e indígena.
De acordo com o IBGE, os brasileiros que se definiam como pertencentes a esse
grupo em 2009 somavam 13.252.000 pessoas, 6,9% da população.
De acordo com uma pesquisa
do IBGE
realizada em 2008
nos estados do Amazonas, da Paraíba,
de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Mato
Grosso e no Distrito Federal, apenas 11,8%
dos entrevistados reconheceram ter ascendência africana, enquanto que 43,5%
disseram ter ancestralidade europeia, 21,4% indígena e 31,3% disseram não
saber a sua própria ancestralidade. Quando indagados a dizer de forma
espontânea a sua cor ou raça, 49% dos entrevistados se disseram brancos,
21,7% morenos, 13,6% pardos, 7,8% negros, 1,5% amarelos, 1,4% pretos, 0,4%
indígenas e 4,6% deram outras respostas. Porém, quando a opção
"afrodescendente" foi apresentada, 21,5% dos entrevistados se
identificaram como tal. Quando a opção "negro" também foi
apresentada, 27,8% dos entrevistados se identificaram com ela.
História
Diferentes escravos
africanos vindos de diferentes origens. (Monjolo, Mina, Benguela,
Calava e Moçambique).
Escravas africanas de
diferentes origens com penteados seguindo a moda europeia.
O Brasil
recebeu cerca de 38% de todos os escravos africanos que foram
trazidos para a América.[4]
A quantidade total de africanos subsaarianos que
chegaram ao Brasil tem estimativas muito variadas: alguns citam mais de três
milhões de pessoas, outros quatro milhões.[5]
Segundo uma estimativa, de 1501 a 1866, foram embarcados na África com
destino ao Brasil 5.532.118 africanos, dos quais 4.864.374 chegaram vivos
(667.696 pessoas morreram nos navios negreiros durante o trajeto
África-Brasil). O Brasil foi, de longe, o país que mais recebeu escravos no
mundo. Em comparação, no mesmo período, com destino à América do Norte foram embarcados
472.381 africanos, dos quais 388.747 chegaram vivos (83.634 não
sobreviveram).
De acordo com a estimativa
do IBGE, o número total de africanos que chegou ao Brasil foi de 4009400
Os escravos homens, jovens,
mais fortes e saudáveis eram os mais valorizados. Havia um grande
desequilíbrio demográfico entre homens e mulheres na população de escravos.
No período 1837-1840, por exemplo, os homens constituíam 73,7% e as mulheres
apenas 26,3% da população escrava. Os navios negreiros embarcavam mais homens
do que mulheres. Além disto, os donos de escravos não se preocupavam com a
reprodução natural da escravaria, porque era mais barato comprar escravos
recém trazidos pelo tráfico internacional do que gastar com a alimentação de
crianças. O número de crianças era inferior, de 3% a 6% dos embarcados.
Os portugueses lideraram o
tráfico de escravos por séculos. Herdaram da tradição islâmica sua
cultura técnica, fundamentalmente para a navegação, produção de açúcar e
incorporação de negros escravos para a força de trabalho.[9]
A mão-de-obra escrava de africanos na produção de açúcar já estava sendo
utilizada nas ilhas atlânticas da Madeira e dos Açores
à época do descobrimento do Brasil, seguindo uma nova forma de organização de
produção: a fazenda.[9]
No início do século XVI, cerca de 10% da população de Lisboa
era composta por escravos africanos, número surpreendentemente alto para um
contexto europeu.[10]
Os portugueses, mais do que qualquer outro povo europeu, estavam
culturalmente condiciados a lidar com povos de pele mais escura e preparados
para contingenciar indígenas ao trabalho forçado e a aliciar multidões de
africanos com o intuito de viabilizar seus interesses econômicos. O Brasil se
configurou como uma formação colonial-escravista de caráter agromercantil.
Primeiramente, o português usou do trabalho forçado do indígena. Porém, com a
deterioração dessa população aborígene, o tráfico de pessoas oriundas da
África se intensificou gradativamente, passando a compor a massa de
trabalhadores no Brasil.
A escravidão fincou raízes
profundas na sociedade brasileira. Os africanos e seus descendentes
resistiram durante todos os séculos contra a escravatura, por meio de
rebeliões ou fugas, formando quilombos. Porém, possuir escravos era uma prática
tão disseminada e aceita pela sociedade que muitos ex-escravos, após
conseguirem a liberdade, também tratavam de adquirir um cativo para si.[11]
Ter escravos significava status e afastava as pessoas do mundo do trabalho
pesado, que na mentalidade brasileira apenas os escravos podiam exercer.
Portanto, no Brasil escravagista, ninguém se espantava ao ver um negro ou um
mulato comprando um escravo, mas essa cena seria chocante nos Estados
Unidos à época e difícil de ser imaginada pelos brasileiros
atualmente.[12]
Toda a vida econômica do império ultramarino português na África e na América
se organizava com base no trabalho escravo, e o sentimento abolicionista
sempre foi muito débil no mundo luso-brasileiro.[13]
Em decorrência, o Brasil só extinguiu o tráfico de escravos em 1850, sob pressão da Inglaterra
e após desrespeitar acordos nos quais se comprometia a abolir o tráfico. A
escravatura só foi abolida em território brasileiro em 1888, sendo o Brasil o
último país das Américas a abolir a escravidão.[14]
A escravatura era um dos pilares do Império do Brasil e, com a
abolição, o Imperador Pedro II perdeu o apoio
dos fazendeiros escravistas insatisfeitos por não terem recebido indenização,
sendo uma das causas da queda da Monarquia no Brasil.
Grupos étnicos
O vestuário da baiana reflete a influência
muçulmana dos escravos oeste-africanos.
Os portugueses classificavam
diversas etnias africanas de forma genérica, sem levar em conta as
peculiaridades existentes entre esses diferentes grupos. De maneira geral, os
escravos eram identificados de acordo com a região do porto onde embarcaram.
Em consequência, um grupo classificado como único pelos portugueses poderia,
de fato, abarcar diversas etnias dentro dele. Os oeste-africanos, oriundos da
denominada Costa da Mina, sobretudo da atual Nigéria
e do Benin,
eram genericamente denominados de escravos minas ou sudaneses,
embora dentro desse grupo genérico eram incluídas etnias diversas, como os nagôs,
jejes, fantis e axantis, gás e txis (minas), malês (islamizados),
hauçás,
kanuris, tapas,
gruncis, fulas
e mandingas.
Muitos dos escravos trazidos da Costa da Mina eram seguidores da religião muçulmana.
Alguns deles sabiam ler e escrever em árabe, fato inusitado no Brasil colonial, onde a
maioria da população, inclusive a elite, era analfabeta.
A influência islâmica desses escravos pode ainda ser vista em Salvador, sobretudo no vestuário
das baianas, com seu característico
turbante muçulmano, saias largas e compridas, xales e mantras listradas.
O outro grande grupo que
veio para o Brasil foi o dos bantos, a maioria oriunda de Angola,
mas esse grupo incluía também escravos de lugares longínquos, como Moçambique.
Bantus
Mulher africana banto com
seu filho, a maioria dos africanos trazidos para o Brasil é de origem Bantu.
Os Bantus
são descendentes de um grupo etnolinguístico que se espalhou rápida e
recentemente desde a atual região de Camarões
em direção ao sul, atingindo tanto o litoral oeste quanto o leste da África.
Como esta expansão foi recente, as diferentes nações Bantus têm muitos
aspectos étnico-culturais, linguísticos e genéticos em comum, apesar da
grande área pela qual se espalharam.[19]
Os Bantus trazidos para o
Brasil vieram das regiões que atualmente são os países de Angola,
República
do Congo, República Democrática do Congo,
Moçambique
e, em menor escala, Tanzânia. Pertenciam a grupos étnicos que os
traficantes dividiam em Cassangas, Benguelas, Cabindas, Dembos,
Rebolo, Anjico, Macuas,
Quiloas, etc.
Constituíram a maior parte
dos escravos levados para o Rio de
Janeiro, Minas Gerais e para a zona da mata do Nordeste.
Oeste-africanos
Guerreiro africano da Costa
do Ouro, século XVII.
Os oeste-africanos provinham
de uma vasta região litorânea que ia desde o Senegal
até à Nigéria,
além do interior adjacente. A faixa de terra fronteiriça ao sul da região do Sahel, que se estende no
sentido oeste-leste atravessando toda a África, é denominada Sudão.
Frequentemente, os escravos de origem oeste-africana são chamados de
sudaneses, o que causa confusão com os habitantes do atual Sudão,
que comprovadamente não teve sua população escravizada nas Américas.
Além disto, apenas parte dos escravos de origem oeste-africana vieram da
vasta região chamada Sudão. Os nativos do oeste-africano foram os
primeiros escravos a serem levados para as Américas sendo chamados, nesta
época, de negros da Guiné.[22]
Os oeste-africanos eram
principalmente nativos das regiões que atualmente são os países de Costa do
Marfim, Benim,
Togo,
Gana
e Nigéria.
A região do golfo de Benim foi um dos principais pontos de embarque de
escravos, tanto que era conhecida como Costa dos Escravos. Os oeste-africanos
constituíram a maior parte dos escravos levados para a Bahia.[20]
Pertenciam a diversos grupos étnicos que o tráfico negreiro dividia,
principalmente, em:
Nagôs
- os que falavam ou entendiam a língua dos Iorubás,
o que incluía etnias como os Kètu,
Egba,
Egbado,
Sabé,
etc;
Jejes - que incluía
etnias como Fons,
Ashanti, Ewés,
Fanti,
Mina e outros menores como Krumans, Agni, Nzema, Timini, etc.
Os Malês
eram escravos de origem oeste-africana, na maior parte falantes da língua haúça, que seguiam a religião muçulmana.
Muitos deles falavam e escreviam em língua árabe, ou usavam caracteres do Árabe para
escrever em haúça[carece de
fontes]. Além dos Hauçás,
isto é, dos falantes de língua haúça, outras etnias islamizadas trazidas como
escravos para o Brasil foram os Mandingas,
Fulas,
Tapa,
Bornu,
Gurunsi,
etc.
Havia também oeste-africanos
de outras etnias além das acima citadas como os Mahis, Savalu
e vários outros grupos menores.
Escravos de Benguela e Congo
Escravos de Moçambique
Fluxos imigratórios
Rotas do tráfico entre Brasil e
África
Cada época da História do
Brasil tem diferentes portos importantes de embarque de escravos, e cada
porto recebia escravos provenientes de uma grande região que ia centenas de
quilômetros dentro do interior da África.
Portanto, a origem étnica dos escravos recebidos no Brasil é muito variada,
além de se ter alterado ao longo dos séculos de tráfico negreiro.
Apesar disto, os grupos
étnicos acabaram se dividindo por locais, com preponderância dos Bantos
no Rio de Janeiro e dos escravos oeste-africanos na Bahia e norte do Brasil.[20]
Uma das razões foi o momento histórico em que ocorreu cada ciclo econômico em
uma região diferente do Brasil (açúcar no nordeste, ouro em Minas Gerais e
café no Rio de Janeiro) e a oferta maior de escravos em uma região da África
Os portos de embarque na
África concentravam escravos provenientes de uma grande região que ia até de
centenas de quilômetros pelo litoral e para o interior do continente. De modo
simplificado, podemos dizer que os escravos africanos trazidos para o Brasil
originavam-se nos seguintes locais de embarque:
Oeste-Africano: portos do
Senegal e Gâmbia (em menor escala, a ilha de Gorée),[23][24]
Mina (hoje Elmina) em Gana, Uidá
em Benim
e Calabar na Nigéria;
Centro-oeste Africano:
portos de Cabinda
(próximo a foz do rio Congo) e Luanda,
ambos na atual Angola;
Leste Africano: portos de Ibo, Lourenço
Marques e Inhambane em Moçambique;
portos de Zanzibar
e Quiloa na atual Tanzânia.
Cada época da História do
Brasil tem diferentes portos importantes de embarque de escravos na África,
portanto, a origem étnica dos escravos recebidos no Brasil é muito variada ao
longo dos séculos de tráfico negreiro. Ao mesmo tempo, cada ciclo econômico
(açúcar no nordeste, ouro em Minas Gerais e café no Rio de Janeiro) fazia com
que uma região diferente do Brasil demandasse mais mão-de-obra escrava do que
as outras. Assim temos:
séculos XVI e XVII: portos
do Senegal e Gâmbia (em menor escala, a ilha de Gorée)[23][24]
enviando escravos da região oeste-africana (negros da Guiné)
principalmente para Salvador e Recife;
séculos XVIII: Portos de Mina, Uidá,
Calabar; Cabinda
e Luanda;
e Zanzibar
enviando escravos que eram desembarcados principalmente em Salvador e Rio de Janeiro, de onde a maior
parte ia para Minas Gerais;
século XIX: Portos de Mina, Uidá
e Calabar; Cabinda
e Luanda;
Zanzibar
e Quiloa; Ibo, Lourenço
Marques e Inhambane enviando escravos que
eram desembarcados principalmente em Salvador e Rio de Janeiro, de onde a maior
parte seguia para as plantações de café no vale do Paraíba
do Sul e cana-de-açúcar do norte fluminense.
Na primeira metade do século
XIX, em que ocorreu o apogeu do tráfico de escravos para o Brasil, os
escravos do oeste-africano iam principalmente para Salvador, enquanto os
centro-oeste e leste-africano iam principalmente para o Rio de Janeiro. A razão é
simplesmente a distância menor entre portos de embarque e desembarque,
transportando uma carga que literalmente perecia com as más condições da
viagem. Deste modo, os grandes grupos étnicos acabaram predominando em alguns
locais como os bantos no Rio de Janeiro e os escravos oeste-africanos na
Bahia e norte do Brasil.[20]
Minas Gerais foi um caso peculiar, pois recebeu grande quantidade de escravos
oeste-africanos e bantos, sendo que os primeiros predominaram até meados do
século XVIII, e os segundos durante o século XIX.
Retorno a África
Diversas comunidades de
escravos libertos no Brasil (afro-brasileiros) retornaram à África
entre os séculos XVIII e XIX.[26]
Entre eles destacam-se os Tabom, retornados ao Gana em 1835-36,[27]
e os Agudás
ou Amarôs,
no Benim,
no Togo
e na Nigéria.
Numerosos, esses "brasileiros" estabeleceram-se na região da antiga
costa dos Escravos - que abrangia todo o golfo de Benim, indo da atual cidade
de Lagos, na Nigéria, até Acra, em Gana. Milton
Guran em seu livro "Agudás – os “brasileiros” do Benin"
resume: "Os “brasileiros” do Benim, Togo e Nigéria, também conhecidos
como agudás, nas línguas locais, são descendentes dos antigos escravos do Brasil
que retornaram à África durante o século XIX e dos comerciantes baianos lá
estabelecidos nos séculos XVIII e XIX. Possuem nomes de família como Souza,
Silva, Almeida, entre outros, festejam Nosso
Senhor do Bonfim, dançam a burrinha (uma forma arcaica do bumba-meu-boi),
fazem desfiles de Carnaval e se reúnem frequentemente em torno de uma feijoadá
ou de um kousidou. Ainda hoje é comum os agudás mais velhos se
cumprimentarem com um sonoro “Bom dia, como passou?” “Bem, ‘brigado’” é a
resposta."[28][29]
Imigração
africana recente
Nas décadas recentes,
africanos negros têm imigrado ao Brasil,[30]
especialmente de países que falam português como Angola,
Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe, em busca de
oportunidades de trabalho ou comerciais.
Influência cultural
Os africanos no Brasil
conseguiram preservar uma parca herança africana. Todavia, apesar de ter sido
pequena, essa herança africana, somada à indígena, deixou para o Brasil, no
plano ideológico, uma singular fisionomia cultural. Os negros trazidos como
escravos eram capturados ao acaso, em centenas de tribos diferentes e falavam
línguas e dialetos não inteligíveis entre si. O fato de todos serem negros
não ensejava uma unidade linguístico-cultural quando submetidos à escravidão.
A própria religião, que atualmente serve como união entre os
afro-brasileiros, na época da escravidão, devido à diversidade de credos, os
desunia. Em consequência, a diversidade linguística e cultura trazida pelos
escravos, aliada à hostilidade entre as diferentes tribos e à política de
evitar que escravos da mesma etnia ficassem concentrados nas mesmas
propriedades, impediram a formação de núcleos solidários que retivessem o
patrimônio cultural africano.
A cultura brasileira foi
influenciada pela africana, sobretudo nas áreas onde houve maior concentração
do elemento negro (no Nordeste açucareiro e nas regiões mineradoras do centro
do país). Porém, uma vez inseridos na nova sociedade, nela os escravos foram
se aculturando. De fato, enquanto nenhum idioma africano sobreviveu no
Brasil, os negros, ironicamente, tiveram papel crucial no
"aportuguesamento" do Brasil e na expansão da língua portuguesa.
Eles foram o agente de europeização que difundiu a língua do colonizador,
ensinando aos escravos recém-chegados o novo idioma e os aculturando no novo
ambiente. Assim, o escravo transitava entre o negro boçal, recém-chegado da
África, sem saber falar o português ou o falando de forma bastante limitada,
sem que isso o impedisse de desempenhar as tarefas mais pesadas. Por outro
lado, havia o negro ladino, já adaptado e mais integrado na nova cultura.
Apesar de não terem
conseguido preservar grande parte da sua herança, os africanos conseguiram
exercer influência no meio cultural em que se concentraram, influenciando o português
falado no Brasil e impregnando todo o contexto cultural com o pouco que pode
preservar. Nessa esteira, por exemplo, o catolicismo no Brasil assumiu
características populares mais discrepantes que qualquer das heresias tão
perseguidas em Portugal. A influência africana sobreviveu, em grande parte,
pelo menos no plano ideológico, nas crenças religiosas e nas práticas
mágicas, nas reminiscências rítimicas e musicais e nos gostos culinários dos
brasileiros.
Uma das consequências do
comércio de escravos foi estabelecer contato entre o que estava afastado,
provocando a convivência de pessoas de diferentes origens e determinando a
miscigenação, não somente biológica, mas também cultural. Ao chegarem ao
Brasil, os africanos deviam adotar, em princípio, um modo de vida calcado no
de seus senhores. Entretanto, é preciso assinalar que, em contato com seus
senhores os escravos se europeizavam, por uma curiosa reviravolta, estes
mesmos senhores se africanizavam em contato com seus escravos.
A Bahia se africanizava e em
toda parte se encontrava o negro, com sua cultura, seus costumes, seu
inconsciente. Mesmo sem o querer, ele os transmitia à nova sociedade na qual
estava integrado à força, e sem perceber, era assimilado o que o negro
ensinava. A sociedade organizada segundo as normas portuguesas não levava em
conta que uma tal influência fosse possível. Entretanto, ela se fazia sentir,
lenta e discretamente, de maneira tanto mais eficaz porquanto não tinha
caráter combinado e deliberado, o que, na época, teria provocado uma viva
oposição.
Demografia
Muitos pretos foram trazidos
para o Brasil como escravos no período colonial e imperial e os pretos eram
uma parcela grande da população, mas, o crescimento da população preta foi
relativamente pequeno em comparação com a entrada de escravos da África subsaariana.[33]
Primeiro porque os homens eram a grande maioria dos escravos traficados para
o Brasil, atingindo quantidades até oito vezes maiores do que a de mulheres.[20]
Segundo, porque a mortalidade era muito maior entre os escravos do que entre
o resto da população brasileira. Em certos momentos da História do Brasil, o crescimento
da população preta deveu-se somente ao crescimento do tráfico de escravos.[33]
A população preta cresceu com força com a melhoria de tratamento dos escravos
que ocorreu depois do fim do tráfico com a Lei Eusébio de Queirós de 1850.
No primeiro levantamento
sobre a cor da população feito no Brasil, em 1872, os resultados foram os
seguintes: 4.188.737 pardos, 3.787.289 brancos e 1.954.452 pretos, sendo
assim, os pretos eram o terceiro maior grupo, como ainda são. No segundo
levantamento feito, em 1890, houve um tímido aumento da população preta, os
resultados foram os seguintes: 6.302.198 brancos, 5.934.291 pardos e 2.097.42
pretos, o que mostra que os pretos continuaram sendo o 3º maior grupo da
população brasileira naquela época mas que não tiveram o mesmo rápido
crescimento populacional que os brancos e pardos tiveram entre 1872 e 1890.
Evolução em valores
absolutos da população de cada cor.
Evolução em porcentagem relativa à
população total.
Os escravos homens, jovens,
mais fortes e saudáveis eram os mais valorizados. Havia um grande
desequilíbrio demográfico entre homens e mulheres na população de escravos.
No período 1837-1840, os homens
constituíam 73,7% e as mulheres apenas 26,3% da população escrava. Os navios
negreiros embarcavam mais homens do que mulheres.[36]
Além disto, os donos de escravos não se preocupavam com a reprodução natural
da escravaria, porque era mais barato comprar escravos recém trazidos pelo
tráfico internacional do que gastar com a alimentação de crianças. O número
de crianças era inferior, de 3% a 6% dos embarcados.
Os fatores que contribuíram
para a brusca diminuição no número relativo de pretos foram diversos.
Primeiro, houve a grande imigração européia para o Brasil
na segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX. Segundo, a
mortalidade era bem maior entre os pretos, que, em geral, não tinham acesso à
boa alimentação, saneamento básico e serviços médicos.
Referindo-se à diminuição de
pretos na população brasileira, João Batista de Lacerda, único
latino-americano a apresentar um relatório no I Congresso Universal de Raças,
em Londres,
no ano de 1911,
escreveu que: "no Brasil já se viram filhos de métis (mestiços,
pardos) apresentarem, na terceira geração, todos os caracteres físicos da
raça branca[...]. Alguns retêm uns poucos traços da sua ascendência negra por
influência do atavismo(…) mas a influência da seleção sexual (…) tende a
neutralizar a do atavismo, e remover dos descendentes dos métis todos os
traços da raça negra(…) Em virtude desse processo de redução étnica, é lógico
esperar que no curso de mais um século os métis tenham desaparecido do
Brasil. Isso coincidirá com a extinção paralela da raça negra em nosso meio".
A política de imigração
brasileira no século XX não era somente um meio do governo de
ocupar terras não ocupadas, conseguir mais mão-de-obra e desenvolver-se, mas
também de "civilizar" e "embranquecer" o país com
população européia. O decreto número 528 de 1890, assinado pelo
presidente Deodoro da Fonseca e pelo ministro
da Agricultura Francisco Glicério determinava
que a entrada de imigrantes da África
e da Ásia
seria permitida apenas com autorização do Congresso Nacional. O mesmo
decreto não restringia, até incentivava, a imigração de europeus. Até ser
revogado em 1907,
este decreto praticamente proibiu a imigração de africanos e asiáticos para o
Brasil.[39]
Apesar de necessitar muito de mão-de-obra pouco qualificada em vários
momentos históricos, depois do fim do tráfico de escravos para o Brasil
nunca se pensou em trazer imigrantes livres da África.
Distribuição geográfica
Desde os tempos coloniais,
há uma distribuição irregular da população preta no Brasil. Atualmente,
porém, pode-se encontrar populações pretas em todas as regiões brasileiras.
Após a
Abolição
No dia 13 de maio de 1888, a
Princesa Isabel, como regente do trono na ausência de seu pai, o Impedor
Pedro II, proclamou a abolição da escravatura. A abolição não trouxe a
transformação econômica e social esperada pelos abolicionistas. O Brasil
continuou sendo um país essencialmente agrário, com um sistema paternalista
de relações sociais e com uma rígida estratificação social. Os proprietários
de terras (brancos em sua maioria e, por vezes, mulatos claros) praticamente
detinham o monopólio do poder econômico, social e político. Os estratos
baixos majoritários da sociedade, formados por brancos pobres e descendentes
de escravos, a eles se submetiam
Os cerca de meio milhão de
escravos libertos com a abolição foram lançados numa sociedade já
multirracial, na qual muitos descendentes de escravos já se encontravam em
liberdade. No século XVIII, havia mais escravos do que livres ou libertos em
algumas regiões do Brasil, sendo que os brancos nunca foram maioria em parte
nenhuma do Brasil, até a imigração europeia alterar o perfil demográfico de
vários estados do Sul e Centro-Sul a partir do século XIX. No início do
século XIX, a maioria da população de origem africana ainda vivia sob a
escravidão. Em 1819, cerca de 30% da população brasileira era escrava e os
libertos constituíam somente entre 10 e 15%. Porém, no decorrer desse século,
assistiu-se a um crescimento exponencial da população de descendentes de
ex-escravos, uma vez que em 1872 os descendentes de ex-escravos já
representavam 42% da população brasileira e os escravos haviam se reduzido
para apenas 16%. Neste ano, havia na população parda quase três vezes mais
libertos do que escravos.
Portanto, quando da
Abolição, o Brasil já possuía uma grande classe de libertos, de variados tons
de pele, e uma tradição longa, que remontava aos primórdios da colonização,
de ascenção social por parte de um pequeno número de escravos alforriados.
Uma carência centenária de mão de obra branca qualificada e semiqualificada
no Brasil colonial obrigou os colonizadores portugueses a legitimar a criação
de uma classe de ex-escravos que fosse capaz de exercer essas atividades,
tendência essa que provavelmente continuou no século XIX.
A ascenção social dos
descendentes de africanos dependia de diversos fatores. A cor da pele, a
textura capilar e os traços faciais se mostravam elementos determinantes da
categoria racial a qual pertenceria uma pessoa. O patrimônio e a posição
social aparente, como a vestimenta e círculo social, também tinham
influência, seguindo a linha de pensamento que no Brasil o "dinheiro
embranquecesse", embora esse fenômeno se limitasse aos mulatos claros.
Os limites à ascenção social dependiam, portanto, da aparência física (quanto
mais "negroide", mais difícil ela era) e também do grau de
"brancura" social (educação, maneiras e renda). Mas não era apenas
a aparência física que importava, a origem ainda tinha importância no Brasil.
Era comum que mestiços em ascenção escondessem a sua origem familiar, o que
demonstrava que mesmo os mulatos que tinham um fenótipo que lhes permitia a
ascenção social se sentiam inseguros que sua origem familiar pudesse ameaçar
a sua mudança social.
O fato é que os libertos de
cor, quase invariavelmente mulatos claros, já desempenhavam um papel
importante bem antes da Abolição em 1888. Alguns haviam alcançado uma
considerável ascenção social, ingressando em ocupações qualificadas ou se
destacando como artistas, políticos e escritores, mesmo quando a escravidão
ainda vigorava. Essa minoria contrastava com a maioria afundada na pobreza.
Com a Abolição, milhares deixaram as fazendas e passaram a viver da
agricultura de subsistência. Em seguida, muitos voltaram para seus antigos
senhores e se inseriram novamente na força de trabalho. Outros rumaram para
as cidades, não preparadas para receber esse fluxo de trabalhadores não
qualificados. No Centro-Sul, os ex-escravos tiveram que competir pelos postos
de trabalho com a massa de imigrantes europeus que estava chegando, mais
qualificados que eles para sobreviver no mundo capitalista urbano. No
Nordeste, decadente economicamente, as oportunidades de emprego eram poucas
para todos. Assim, para as classes baixas brasileiras, na qual se encontravam
a maioria dos negros e mulatos, a ascenção social era dificílima.[40]
Com a Abolição, assistiu-se
à saída dos ex-escravos que não queriam mais servir aos seus antigos
senhores, seguida à expulsão dos negros velhos e enfermos das fazendas.
Grande número de negros passaram a se concentrar na entrada das vilas e
cidades, vivendo em condições precárias, o que forçou muitos deles a
regressar para o trabalho nos latifúndios. Com o desenvolvimento da economia
agrícola, outros contingentes de trabalhadores e agregados foram expulsos,
engrossando a população das vilas. Essa massa não era constituída apenas por
negros, mas também por pardos e brancos pobres, que ficavam à disposição para
o aliciamento de mão de obra. Essa massa, predominantemente negra e mulata,
ainda hoje pode ser vista junto aos conglomerados urbanos brasileiros e em
todas as áreas de latifúndio, vivendo em situação de miserabilidade.[9]
Miscigenação
Além da imigração européia
do final do século XIX e início do século
XX, um dos fatores que causaram a diminuição estatística relativa
da população preta no Brasil nos últimos dois séculos foi a intensa miscigenação ocorrida.[41]
No período colonial e
imperial, vários fatores, como a relativamente reduzida população de mulheres
brancas, acabaram por fazer com que um grande número de relacionamentos entre
portugueses e africanas, assim como entre portugueses e índias, acontecessem.
Alguns mulatos eram alforriados e, em grupos mais restritos, educados,
todavia, a maioria deles continuava a ser escrava. Esse fenômeno não foi
exclusivo da América Portuguesa, tendo ocorrido em toda a América
Latina e, em menor escala, na América do Norte.
O papel das mulheres
A miscigenação de africanos
no Brasil ocorreu sobretudo através de concubinatos
envolvendo mulheres negras ou mulatas e homens brancos de origem portuguesa.
Em um levantamento de pessoas acusadas de concubinato na Comarca do Rio das
Velhas, em Minas Gerais, entre 1727 e 1756, os números mostram que entre os
concubinos, 92% eram homens brancos. Porém, das concubinas, 52,1% eram
africanas, 35,1% crioulas (negras brasileiras) ou mestiças, e apenas 11,8%
eram brancas. Havia, portanto, um nítido predomínio de concubinato envolvendo
um homem branco (92%) e uma mulher negra ou mulata (87,2%).[42]
Por muito tempo, a historiografia associava a prática disseminada da
concubinagem no Brasil colonial à ausência de moral, à condição de extrema
pobreza desses indivíduos, aos parcos recursos para realizar um casamento, à
pouca disponibilidade de mulheres brancas etc. Estas explicações não levavam
em conta a influência das culturas africana e indígena nesse contexto. As
mulheres africanas e suas descendentes crioulas, pardas e mulatas tinham
percepções culturais diferentes das europeias. Para muitas dessas mulheres,
permanecer solteira não representava uma degradação, mas uma virtude.[42]
O casamento
católico
na igreja,
tão valorizado na cultura portuguesa, ainda não era uma prioridade para as
mulheres de origem africana no Brasil colonial. Apenas mais tarde é que houve
uma valorização do casamento no Brasil, e as mulheres solteiras passaram a
ser estigmatizadas. Isso se deu através da importação da cultura portuguesa,
disseminando aspectos culturais como a devoção à Santo Antônio (santo
casamenteiro).[43]
A Igreja Católica se esforçou para instituir o casamento monogâmico
na Europa
no século
XIII. Foi um processo árduo de normatização de comportamento feito
à base de grande repressão. No Brasil, este processo só se concretizou a
partir da segunda metade do século
XIX, após a transferência
da corte portuguesa para o Brasil. Antes disso, proliferavam no
Brasil formas heterodoxas de organização familiar, imperando o concubinato e
as relações temporárias. O papel da mulher no Brasil também era mais dinâmico
do que se esperava para os padrões católicos de mulher recatada e devota, que
se tentava imprimir.[12]
Só no século XIX, através de enorme repressão sexual, é que a concepção de
que o sexo servia apenas para reprodução
se instalou no Brasil e o casamento passou a ser a norma a ser seguida. Tal
concepção só viria a se dissolver a partir da revolução sexual que se
disseminou pelo mundo ocidental na década de 1960.
Na concepção de muitas
mulheres de origem africana no Brasil colonial, o concubinato não restringia
a liberdade das mulheres como o casamento, e ainda era uma forma de ascensão
social, pois muitas escravas conseguiam a liberdade ao se unirem a homens
brancos. Estes, após a morte, costumavam deixar bens para os filhos tidos com
a concubina. Mulheres de origem africana figuravam em relações endogâmicas,
poligâmicas
ou mesmo relações monogâmicas, onde elas eram o centro dessa estrutura.
Muitas ex-escravas, após conseguirem a liberdade, caíam na pobreza, por não
dominarem algum ofício, somado ao preconceito por serem mulheres, de cor e
ex-escravas. Algumas forras viviam em situação mais degradante do que alguns
escravos, como os domésticos. Outras, por sua vez, se inseriam no mercado de
trabalho e conseguiam uma ascensão social, acumulando riquezas. Estas moravam
sozinhas, adquiriam escravos e desenvolviam atividades econômicas. Há vários
relatos de mulheres negras e pardas forras, durante o período colonial, que
desfrutavam de um padrão de vida equiparado ao da elite, principalmente em
Minas Gerais, onde a ascensão social era mais maleável. Gozavam da liberdade
de decidir o futuro de suas vidas, contrastando com a situação de submissão
de muitas mulheres brancas, que primeiro viviam sob o jugo dos seus pais,
para depois terem que se submeter ao marido, passando a viver praticamente
enclausuradas dentro de casa. A figura mais emblemática da ascensão social
das mulheres de ascendência africana no Brasil colonial é Chica da
Silva, mas muitas outras mulheres forras
desconhecidas alcançaram ascensão social semelhante.
Pesquisas
genéticas
Uma recente pesquisa genética, encomendada
pela BBC
Brasil, analisou a ancestralidade de 120 brasileiros
auto-declarados pretos que vivem em São
Paulo.[45]
Foram analisados o cromossomo Y, herdado do pai, e o DNA
mitocondrial, herdado da mãe. Ambos permanecem intactos através de
gerações porque não se misturam com outros materiais genéticos provenientes
do pai ou da mãe, salvo as raras mutações
que podem ocorrer. O DNA mitocondrial de cada pessoa é herdado da sua mãe, e
esta o herdou do ancestral materno mais distante (a mãe da mãe da mãe etc).
Já o cromossomo Y, presente apenas nos homens, é herdado do pai, e este o
herdou do ancestral paterno mais distante (o pai do pai do pai etc).
Esta pesquisa mostrou
proporções quase iguais de pessoas com cromossomo
Y provenientes da Europa (50%) e da África subsaariana (48%) no grupo
de brasileiros negros que foi analisado. Com segurança pode-se afirmar que
metade (50%) desta amostra de pretos brasileiros são descendentes de pelo
menos um europeu homem. Por outro lado, esta pesquisa mostrou que no grupo de
brasileiros e brasileiras pretos analisados, cerca de 85% das pessoas tinham DNA
mitocondrial originado de uma antepassada da África subsaariana e
12,5% de uma índia.
Se o grupo analisado
representa uma boa amostra da população brasileira, pode-se dizer que os
brasileiros negros descendem pelo lado paterno tanto de europeus quanto de africanos subsaarianos, embora
pelo lado materno sejam na maior parte descendentes de africanas subsaarianas
(85%). Nota-se também que uma parte considerável (12,5%) deste grupo de
brasileiros auto-declarados pretos é descendentes pelo lado materno de pelo
menos uma ancestral índia.
Daiane dos Santos, 40,8% de
ancestralidade européia, 39,7% africana e 19,6% ameríndia
de acordo com um estudo de seu DNA.
A mesma pesquisa genética
também analisou a ancestralidade de brasileiros negros famosos. O resultado
surpreendeu ao mostrar que pessoas auto-classificadas e consideradas pretas
perante a sociedade apresentam alto grau de ancestralidade europeia. Alguns
resultados obtidos foram:
Daiane dos Santos, atleta :
40,8% de genes europeus, 39,7% da África subsaariana e 19,6% ameríndios;
Ildi
Silva, atriz : 71,3% de genes europeus, 19,5% de genes da África subsaariana e 9,3% ameríndios;
Sandra
de Sá, cantora : 96,7% de genes da África subsaariana;
Milton Nascimento, compositor e
cantor : 99,3% de genes da África subsaariana.
Outra pesquisa genética
sugere que uma quantidade considerável de brasileiros brancos não carregam em
si apenas DNA proveniente de povos europeus, tendo também DNA proveniente de
índios e africanos, devido a miscigenação. Como esperado, o ancestral
não-europeu está mais comumente do lado materno. De acordo com essa pesquisa
os brasileiros brancos seriam resultado mais da miscigenação com índias
do que com africanas subsaarianas, embora a
diferença seja pequena.[47]
(os resultados desta pesquisa foram colocados na mesma tabela com a pesquisa
genética de brasileiros negros anteriormente mencionada) A mesma pesquisa
permitiu comparar o grau de miscigenação dos brasileiros brancos com o de estadunidenses
brancos, comprovando-se, como esperado, que os primeiros são mais
miscigenados, embora também tenha havido miscigenação entre os segundos.
De acordo com esse mesmos
estudo genético, 45% de todos os brasileiros, brancos e pretos, teriam cerca
de 90% de genes
africanos subsaarianos; e que
cerca de 86% possuem 10% ou mais de genes
africanos subsaarianos. Mas esse próprio estudo admite que seus limites de
confiança são amplos e foram feitos por extrapolação (extrapolação de 173
amostras de Queixadinha, Norte de Minas Gerais, para todo o Brasil):
"Obviamente estas estimativas foram feitas por extrapolação de
resultados experimentais com amostras relativamente pequenas e,
conseqüentemente, têm limites de confiança bastante amplos".[47]
Outro estudo genético autossômico, também levado a cabo pelo renomado
geneticista brasileiro Sérgio Pena, em 2011, e contando desta vez com
aproximadamente 1000 amostras (do Norte, do Nordeste, do Sudeste e do Sul do
Brasil), demonstra que os Brasileiros "brancos" na maior parte das
regiões brasileiras possuem ancestralidade africana, no geral, em nível
inferior a 10%, sendo que os "pardos" brasileiros, no geral, possuem
ancestralidade Européia em grau predominante, sendo o componente Europeu o
principal na formação da população brasileira, junto com o Africano (em grau
menor do que o Europeu, embora significante), e o Indígena (em grau inferior
aos componentes Africano e Indígena). Em todas as regiões do Brasil, a
ancestralidade Européia responde pela maior parte da ancestralidade da
população: "Em todas as regiões estudadas, a ancestralidade Européia foi
a predominante, com proporções variando de 60,60% no Nordeste a 77,70% no Sul
do país". A ancestralidade Africana encontra-se presente em grau alto em
todas as regiões do Brasil. E a Indígena, em grau menor, também encontra-se
presente em todas as regiões do Brasil. Os "Negros" possuem
significativo grau de ancestralidade Européia e, em menor grau,
ancestralidade Indígena.
De acordo com um estudo
genético autossômico feito em 2010 pela Universidade Católica de Brasília e
publicado no American Journal of Human Biology, a herança genética europeia é
a predominante no Brasil, respondendo por volta de 80% do total, sendo que no
Sul esse percentual é mais alto e chega a 90%.[54]
Esse estudo se refere à população brasileira como um todo: "Um novo
retrato das contribuições de cada etnia para o DNA dos brasileiros, obtido
com amostras das cinco regiões do país, indica que, em média, ancestrais
europeus respondem por quase 80% da herança genética da população. A variação
entre regiões é pequena, com a possível exceção do Sul, onde a contribuição
europeia chega perto dos 90%. Os resultados, publicados na revista científica
"American Journal of Human Biology" por uma equipe da Universidade
Católica de Brasília, dão mais peso a resultados anteriores, os quais também mostravam
que, no Brasil, indicadores de aparência física como cor da pele, dos olhos e
dos cabelos têm relativamente pouca relação com a ascendência de cada pessoa.
Outro estudo genético
autossômico recente, de 2009, também indica que a ancestralidade Européia é
mais importante, seguida da Africana, e depois da Ameríndia. "Todas as
amostras (regiões) encontram-se mais perto dos Europeus do que dos Africanos
ou dos Mestizos do México", do ponto de vista genético.
De acordo com um estudo
autossômico realizado em 2008, pela UnB, a população brasileira é formada
pelos componentes Europeu, Africano, e Indígena, com as seguintes proporções:
65,90% de contribuição européia, 24,80% de contribuição africana e 9,30% de
contribuição indígena.
Outros estudos, vieram a demonstrar
a predominância da ancestralidade Européia, na população Brasileira. O que
não quer dizer que ela seja Européia, já que a contribuição Africana é
imensa, e a Indígena, significativa. O povo Brasileiro é, em verdade, o
resultado do encontro de Europeus, Africanos e Indígenas: "A correlação
entre cor e ancestralidade genômica é imperfeita: ao nível individual não se
pode prever com segura a cor da pele ou seu nível de ancestralidade Européia,
Africana e Ameríndia nem o oposto. Independentemente da sua cor de pele, a
grande maior parte dos Brasileiros possui um nível de ancestralidade Européia
muito alto. Também, independentemente de sua cor de pele, a maior parte dos
Brasileiros possui um grau significativo de ancestralidade Africana.
Finalmente, a maior parte dos Brasileiros têm um grau significativo e muito
uniforme de ancestralidade Indígena. A alta variabilidade observada em
Brancos e Negros sugere que cada Brasileiro possui uma proporção única e
singular de ancestralidades Européia, Africana e Indígena. Assim, a única
maneira de se lidar com os Brasileiros não é considerando eles como membros
de categorias segundo a cor da pele, mas sim em uma base de pessoa para
pessoa, como 190 milhões de seres humanos com um genoma e histórias de vida
singulares".
No Sudeste
De acordo com um estudo
autossômico de 2009, a herança Européia é a dominante no Sudeste, embora a
Africana também seja significativa. A composição do Sudeste foi assim
encontrada: 60.7% Européia, 32.0% Africana 7.3% Ameríndia.
Um estudo de ancestralidade
autôssomica, de 2009, em escola pública objeto da pesquisa, em Nilópolis,
Baixada Fluminense: pessoas que se autoidentificaram como "pretas"
nesse estudo, em média, acusaram ancestralidade em torno de 52% europeia,
africana 41% e ameríndia 4%. Pessoas que se autoidentificaram como pardas
revelaram ancestralidade, em média, 80% europeia, 12% africana e 8%
ameríndia. Os pardos se achavam quase 1/3 ameríndios, 1/3 africanos e 1/3
europeus, e, no entanto, sua ancestralidade européia foi superior a
80%". Os brancos praticamente não apresentaram grau de miscigenação
significativo. A maior parte dos brancos registrou ancestralidade européia
superior a 90%, e 1/3 dos pardos também revelou ancestralidade superior a
90%. Os resultados desse importante estudo revelaram que o componente Europeu
é muito mais importante do que aquilo que os estudantes pensavam que seria.
Em São Paulo, tanto brancos
como negros apresentam grande ancestralidade africana. Um estudo encontrou
média de 25% de ancestralidade africana nos "brancos" da cidade de
São Paulo (entre 18-31%), e 65% nos "pretos" da mesma cidade (entre
55-76%).[61]
Em Campinas,
um estudo encontrou ancestralidade 45% africana, 41% europeia e 14% indígena
em pessoas com hemoglobina S (mais prevalente em africanos e seus
descendentes). Este mesmo estudo revelou que em apenas 53% dos indivíduos a
sua ancestralidade africana era visível no fenótipo.
O componente Europeu é o
dominante no estado de São Paulo, e responde por 79% da herança genética da
população, o restante sendo africano (14%) e indígena (7%), de acordo com um
estudo autossômico de 2006
Em Minas Gerais, os Brancos
possuem ancestralidade predominante Européia, no geral, embora 89% dos
brancos teriam mais de 10% de ancestralidade africana e 87% dos pretos têm
mais de 10% de ancestralidade europeia, além da ancestralidade indígena. Os
negros do Quilombo de Marinhos, em Minas, são 81% africanos, enquanto os
habitantes do município são 59% africano, 37% europeu e 4% indígena, enquanto
que em Belo Horizonte (incluindo pessoas de diversas cores, com maior
proporção de brancos) a média da população é 66% europeia, 32% africana e 2%
indígena. De acordo com esse estudo, a ancestralidade Européia é também a
dominante em Minas Gerais, tendo havido considerável fluxo gênico Europeu
para a comunidades quilombola objeto da pesquisa. A dominância da ancestralidade
Européia em Minas Gerais foi explicada com base no fato de que a maior dos
Africanos era do sexo masculino e com baixa expectativa de vida, tendo pouco
sucesso reprodutivo, quanto comparado ao colonizador.[61][64]
Em Queixadinha, no Norte de Minas Gerais, foi encontrado índice de
ancestralidade africana bastante próximo entre pessoas classificadas de
acordo com seu fenótipo como brancas, pardas ou pretas. A partir, portanto,
do seu fenótipo, os indivíduos foram classificados da seguinte forma: 30
pessoas como “pretas” (17,3%), 29 pessoas como “brancas” (16,8%) e 114
pessoas como “pardas” (65,9%). Os brancos de Queixadinha têm 32% de
ancestralidade africana, os pardos 44% e os pretos 51%, estando os pardos
mais próximos aos pretos do que aos brancos.[61]
Até o momento não foram feitos estudos na região mais densamente povoada de
Minas Gerais, que é a região do Sul de Minas Gerais e Zona da Mata, onde o
componente Europeu é significativamente maior.
No Nordeste
De acordo com um estudo
genético autossômico de 2009, a herança Européia é a dominante no Nordeste,
respondendo por 66,70% da população, o restante sendo africano (23,30%) e
ameríndio (10%). O Nordeste encontra-se, assim, então constituído: 66,70%
Europeu, 23,30% Africano e 10% Ameríndio.
De acordo com um estudo
genético de 2011, "em todas as regiões estudadas, a ancestralidade
Européia foi a predominante, com proporções variando de 60,60% no Nordeste a
77,70% no Sul do país".
De acordo com um estudo
genético realizado em 1965, pelos pesquisadores norte-americanos D. F.
Roberts e R. W. Hiorns, "Methods of Analysis of a Hybrid
Population" (em Human Biology, vol. 37, number 1), a ancestralidade
média do nordestino é predominantemente europeia (grau por volta de 65%), com
contribuições menores, mas importantes, da África e dos indígenas brasileiros
(25% e 9% respectivamente).
De acordo com um estudo
genético (DNA autossômico) de 2011, pardos
e brancos
de Fortaleza
possuem ancestralidade africana, e também indígena, mas a herança europeia
responde por mais de 70% da ancestralidade tanto de "pardos" como
de "brancos".
De acordo com um estudo
genético de 2005, em São Luís do Maranhão a
contribuição africana para a população foi estimada em 19%. A europeia, 42; e
a indígena, 39%.
Um estudo genético realizado
no Recôncavo baiano confirmou o alto
grau de ancestralidade africana na região. Foram analisadas pessoas da área
urbana dos municípios de Cachoeira e Maragojipe,
além de quilombolas
da área rural de Cachoeira. A ancestralidade africana foi de 80,4%, a
europeia 10,8% e a indígena 8,8%.[68]
Em Salvador a ancestralidade
predominante é africana (49,2%), seguida pela europeia (36,3%) e indígena
(14,5%). O estudo também concluiu que soteropolitanos que possuem sobrenome
com conotação religiosa tendem a ter maior grau de ancestralidade africana
(54,9%) e a pertencer a classes sociais menos favorecidas.
Nas capitais nordestinas
analisadas (assim como no Nordeste em geral) a ancestralidade africana é
expressiva em todas elas, embora a Européia seja a principal, na maior parte
delas, e na região Nordeste como um todo. Sem especifiar a cor das pessoas
analisadas, para a população de Aracaju chegou-se a um índice de 62% de
ancestralidade europeia, 34% africana e 4% indígena.
Para a população de Natal, também sem especificar a
cor dos pesquisados, de acordo com um estudo antigo baseado em polimorfismos
sanguíneos encontrou a seguinte composição: ancestralidade encontrada foi 58%
europeia, 25% africana e 8% indígena.[71]
Já a ancestralide de migrantes nordestinos que moram em São
Paulo é 59% europeia, 30% africana e 11% indígena.[70]
Segundo outro estudo, de 1997, para toda a população nordestina, a
ancestralidade estimada seria de 51% europeia, 36% africana e 13% indígena.
No Sul
De acordo com um estudo
genético autossômico feito em 2010 pela Universidade Católica de Brasília e
publicado no American Journal of Human Biology, a herança genética europeia é
a predominante no Brasil, respondendo por volta de 80% do total, sendo que no
Sul esse percentual é mais alto e chega a 90%.[54]
Assim, a ancestralidade Européia é a principal no Sul, e a Africana
significativa, assim como a Ameríndia.
De acordo com outro estudo
genético autossômico de 2009, a herança Européia é, sim, a dominante no Sul
do país, respondendo por 81,50% do total, o restante sendo Ameríndio (9,2%) e
Africano (9,3%).
Estudos genéticos realizado
no estado do Paraná
entre "afrodescendentes" (negros ou mulatos de diferentes tom de
pele) mostram que o grau de mistura é muito variável. Os "mulatos
claros" ou "mulatos médios" apresentam grau semelhante de
ancestralidade africana e europeia (44% europeia, 42% africana e 14%
indígena). Por sua vez, os "mulatos escuros" ou "negros"
do Paraná são predominantemente africanos, sendo a ancestralidade 72%
africana, 15% europeia e 6% indígena. Mesmo entre os "brancos" do
Paraná, os índices de ancestralidade africana são expressivos, porém bastante
variáveis, indo desde um mínimo de 3% em um estudo, a um máximo de 17% em
outro.
No Norte
De acordo com um estudo
genético de 2011, a composição genética da população de Belém é 69,70%
europeia, 10,90% africana e 19,40% ameríndia.
No Centro-Oeste
De acordo com estudos
autossômicos realizados, a Ancestralidade Africana responde por 21,70% da
herança da população no Centro Oeste. A Européia, 66,30%; e a Indígena,
12,00%.
Comunidades
quilombolas
Estudos genéticos realizados
em quilombos (comunidades formadas por descendentes de escravos) têm revelado
que a ancestralidade africana predomina na maioria deles, embora seja bem
significativo a presença de elementos de origem europeia e indígena nessas
comunidades. Isso mostra que os quilombos não foram povoados apenas por
africanos, mas também por pessoas de origem europeia e indígena que foram
integradas nessas comunidades. Os estudos mostram que a ancestralidade dos
quilombolas é bastante heterogênea, chegando a ser quase que exclusivamente
africana em alguns, como no quilombo de Valongo, no Sul, enquanto em outros a
ancestralidade europeia chega até a predominar, como no caso do quilombo do
Mocambo, no Nordeste.[75]
Estudos genéticos realizados especificamente em comunidades negras do Brasil
(quilombos)
mostram que em quase todas a ancestralidade africana é predominante.
Discriminação
O preconceito racial no Brasil é o
que alguns autores chamam de preconceito “de marca”, ou seja, que recai sobre
o fenótipo do indivíduo (tipo de cabelo, traços e cor da pele). Ele não recai
diretamente sobre a ancestralidade, pois no Brasil as classificações raciais
se baseiam mais na aparência física da pessoa do que na ancestralidade. É um
racismo que aparece como expressão de foro íntimo, mais apropriado ao recesso
do lar.[78]
A escravidão foi abolida, houve a universalização das leis, mas o padrão
tradicional de acomodação racial não foi alterado, mas apenas camuflado.
Apesar da tão falada “miscigenação brasileira”, um sistema enraizado de
hierarquização social com base em critérios como classe social, educação
formal, origem familiar e na raça continuaram. Se após a Segunda Guerra
Mundial o darwinismo racial foi perdendo força e o conceito biológico de raça
foi se desmontando, o “preconceito de cor” fazia as vezes da raça.
Os anos 70 representaram a
chegada de todo um movimento de contestação dos valores vigentes no Brasil,
por meio de política oficial e, sobretudo, alternativa, na literatura e
música. Nessa época surgiu o Movimento Negro Unificado (MN) que, ao lado de
outras organizações paralelas, passaram a discutir as formas tradicionais de
poder. A existência de movimentos negros no Brasil, porém, é mais antiga:
data de 1931 a criação da Frente Negra Brasileira e do seu jornal, e
periódicos dedicados ao tema já circulavam no Brasil.
O racismo no Brasil está nas
diferenças no acesso à educação e ao lazer, na distribuição desigual de
rendas, marcas da discriminação que fugiam à alçada oficial, mas que eram
evidentes no cotidiano. A desconstrução do mito da democracia racial
circunscreveu o tema racial a uma questão de classe e abandonou a cultural. O
tema racial parecia subsumido à luta entre classes e seu problema não seria
resolvido por meio do enfrentamento de suas especificidades. Os estudos mais
recentes, todavia, demonstraram que o preconceito de cor não estava
exclusivamente atrelado a uma questão econômica e social, mas que continuava
como um divisor da sociedade
O racismo brasileiro é de
foro íntimo, presente na intimidade, mas camuflado quando toma a esfera
pública. Ele se reflete nas relações pessoais mais íntimas, num modelo antigo
de hierarquização social e de oportunidades desiguais entre os cidadãos.
Reflete-se em práticas reiteradas, como o "elevador social",
reservado ao moradores do prédio e o "elevador de serviços",
reservado aos serviçais, majoritariamente negros. Na situação econômica se
aflora, assim como na relação com a justiça, sendo que os réus negros têm 80%
de chance a mais de serem incriminados que os brancos. O Brasil vive uma
dicotomia, ao exaltar a miscigenação racial e cultural mas de, ao mesmo
tempo, perceber-se um país extremamente desigual.
Indicadores sócio-econômicos
Catadores
de lixo no Recife. Mais de 70% dos brasileiros que vivem na
miséria são negros ou pardos.
Um relatório da UFRJ divulgado em 2011 aponta que tem
crescido a parcela de negros e pardos no total de desempregados.[79]
De acordo com o relatório, em 2006, 54,1% do total de desocupados eram negros
e pardos (23,9% de homens e 30,8% de mulheres). Pouco mais de 10 anos antes,
ou seja, em 1995, os negros e pardos correspondiam a 48,6% desse total (25,3%
de homens e 23,3% de mulheres).
Em relação aos que estão
empregados, as diferenças entre as raças também são claramente perceptíveis:
em 2006, o rendimento médio mensal real dos homens brancos equivalia a R$
1.164,00, valor 56,3% superior à remuneração obtida pelas mulheres brancas
(R$ 744,71), 98,5% superior à conseguida pelos homens negros e pardos (R$
586,26) e 200% à obtida pelas mulheres negras e pardas.
Um levantamento do MDS divulgado em 2011 estima que, na
parcela extremamente pobre da população, 50,5% são mulheres e 70,8%
declararam ser pretas ou pardas
O Censo 2010 apurou que, dos 16
milhões de brasileiros vivendo em extrema pobreza (ou com até R$ 70 mensais),
4,2 milhões são brancos e 11,5 milhões são pardos ou pretos.
Representatividade na mídia
A atriz Camila
Pitanga já foi protagonista de algumas telenovelas.
Os afrodescendentes têm
pouca visibilidade na mídia brasileira. Na televisão
brasileira ainda impera o modelo hegemônico branco, refletindo um anseio por
uma euro-norte-americanização do retrato social brasileiro.[82]
Apesar da resistência cultural e política de grupos negros, a televisão
brasileira ainda não foi capaz de representar os valores, experiências e
importância desse grupo formador da população brasileira.[82]
A telenovela,
importante produto da indústria cultural brasileira, já representou várias
classes sociais, mas os centros de suas tramas sempre rodam em torno de uma classe
média branca e suas relações com os ricos. A "classe média da
Zona Sul" é retratada nas novelas brasileiras de forma destacada e
glamourizada, e os personagens negros são retratados a partir da visão dos
brancos. Os personagens negros aparecem como "empregados fiéis e anjos
da guarda dos protagonistas e personagens mais relevantes do horário
nobre". Mesmo a classe média negra, quando retratada nas novelas,
aparece de forma tão normal e assimilada, sem ligação com a cultura
afro-brasileira, que poderia ser interpretada por atores brancos.[82]
O Brasil produz telenovelas
desde a década de 1960, porém só em 1996 é que uma atriz
negra, Taís Araújo, se tornou protagonista, em Xica da
Silva. Sobre os títulos de ter sido a primeira atriz negra a se
destacar em diversas áreas da televisão, Taís Araújo declarou que dispensaria
esses títulos pois "mostram o preconceito e o atraso existentes no meu
país". Indagada sobre o porquê de haver tão poucos negros na televisão
brasileira, a atriz declarou: "Porque vivemos num país recheado de
preconceito. Existem muitos atores negros no mercado, bons profissionais e
muito bem preparados para enfrentar qualquer personagem".[83]
Reflexo nítido disso aconteceu em 1970, na adaptação do livro americano Uncle Tom's Cabin para a
televisão feita pela Rede Globo. Quem foi
escalado para fazer o papel do Tio Tomás, que no livro era um personagem
negro, foi o ator branco Sérgio
Cardoso. Para parecer negro, Cardoso teve que pintar-se de preto
durante toda a novela. Também na novela Gabriela, uma adaptação do livro Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge
Amado, quem foi escalada para fazer o papel principal foi Sonia
Braga, embora no romance original a personagem fosse negra. Numa
outra adaptação do livro de Jorge Amado, na novela Porto dos Milagres, de 2001,
praticamente todos os atores eram brancos, embora no livro original a
história se passasse na Bahia e o próprio autor descrevia que os personagens
fossem em sua maioria negros. No Brasil, os personagens negros são
frequentemente estereotipados, normalmente em papéis submissos, de empregada doméstica, motorista,
serviçal, guarda-costas ou favelado.
As negras normalmente são retratadas como mulheres com grande apetite sexual
e exarcebada sensualidade. Os homens negros, por sua vez, estereotipados como
malandros e criminosos.[84]
Embora desde a década
de 1970 os movimentos negros no Brasil lutem por uma maior
representação de afrodescendentes na mídia, a televisão brasileira ainda
segue o padrão do "branqueamento" e, apesar dos avanços, em muitas
novelas os personagens negros são simplesmente ignorados. Com exceção de
produções com temática escravagista, das 98 telenovelas produzidas pela Rede
Globo na década de 1980 e de 1990,
em 28 delas simplesmente não havia sequer um personagem negro. Em apenas 28%
delas mais de 10% dos atores eram negros, em um país onde pelo menos 50% da
população é formada por descendentes de africanos. A telenovela, ao não
refletir a real composição étnica da população brasileira, concilia-se com a
negação da diversidade racial do Brasil. Atores morenos ou mestiços também
não são destacados. Telenovelas com uma temática que dê destaque à cultura ou
às experiências específicas dos afro-brasileiros raramente são retratadas no
horário nobre, ficando restritas a algumas minisséries.
No meio publicitário
brasileiro a situação não é diferente. Há negros em apenas 3% dos comerciais
de televisão. Na década de 1980, movimentos negros e publicitários
renomados se reuniram para analisar a falta de negros na publicidade
brasileira. Chegou-se à conclusão que o negro era ignorado pois a propaganda
pretendia retratar um modelo de família da classe média brasileira, onde a
presença negra seria escassa. Ademais, o negro não seria consumidor, os
clientes não estariam aceitando a inclusão do negro em seu produto e, por
fim, a publicidade seria um reflexo de uma sociedade preconceituosa. O
cineasta mineiro Joel Zito Araújo, que fez um
amplo trabalho sobre a representação do negro na mídia brasileira, afirmou:
"na lógica dessa maioria, preto é igual a pobre, que é igual a consumo
de subsistência". Como muitos brasileiros ainda vivem sob a égide do
mito da democracia racial, muitos
publicitários e produtores simplesmente acreditam que a questão racial não é
importante, o que ilimina a preocupação em retratar a diversidade racial do
Brasil.[82]
Porém, nos últimos anos, a
publicidade brasileira têm percebido que muitos negros vêm ascendendo
socialmente, transformando-se em potenciais consumidores. Dos brasileiros que
ganham mais de vinte salários mínimos, 28% são negros. Somado a isso, há anos
há pressão de grupos e de políticos negros para que haja uma maior
representação dessa parcela da população. Assim, de forma paulatina a
visibilidade do negro na publicidade vem aumentando. Porém, em muitos casos,
os publicitários escalam para as suas propagandas um único negro, rodeado de brancos,
seguindo a linha do politicamente correto.
A "branquidade
normativa", ou seja, os brancos tidos como o padrão a ser seguido, não é
algo exclusivo dos meios de comunicação do Brasil, sendo também uma constante
em diversos países da América
Latina. Nesses países, negros, índios e mestiços, sobretudo, são
desvalorizados. Na mídia latino-americana, ter um fenótipo
branco e, preferencialmente, o nórdico,
é associado com valores positivos, como inteligência, habilidade, educação,
beleza, honradez e amabilidade. São países que vivem uma dualidade pois,
apesar de haver uma promoção oficial da miscigenação e um orgulho em um
contexto internacional, o padrão branco é aquele tido como normal, e os
outros grupos são excluídos ou estereotipados.
Negros
nos livros didáticos
Nos livros didáticos
brasileiros, há uma invisibilidade dos negros e uma disparidade em relação à
representação de brancos. Em uma pesquisa, nos textos não verbais analisados,
em apenas 11% há representação de negros, embora mais de 40% da população
brasileira se defina como preta ou parda.[86]
A representação dos negros nos livros escolares acontece com uma ênfase no
lado pejorativo e degradante dessas pessoas. Em mais de 72% das
representações nos livros, o negro está exposto sob uma perspectiva negativa
e em somente 30% de forma positiva. No meio escolar brasileiro, a
representação dos negros no livro didático está normalmente associada com o
que há de pior, com a deliquência, as drogas, a escravidão, a miséria, o
lixo.[86]
Frequentemente fazem referências à cor do personagem de forma negativa. A
maioria dos professores entrevistados dizem não perceber essa representação
negativa do negro ou não dá a devida importância ao tema, muitas vezes
delegando o preconceito ao próprio aluno negro. Para a maioria dos
professores, o racismo existente na sociedade não adentra o meio escolar. A
ótica dos alunos, por outro lado, se mostrou mais aguçada quanto à percepção
dessa discriminação. A maioria dos estudantes relataram que percebem que nos
livros didáticos há uma maior representação do grupo branco do que do negro,
apenas 11,11% disseram que tanto brancos quanto negros são representados de
forma igual. Porém uma minoria entende isso como uma manifestação de racismo.
Os alunos, ao terem contato com o livro, associam os personagens ali contidos
com os colegas de classe. Como a maioria dos negros são retratados de forma
pejorativa no livro didático, os colegas negros passam a ser estigmatizados e
ridicularizados, gerando sérios reflexos na sua formação.
A educadora Andreia Lisboa
de Sousa, ao analisar a representação do negro na literatura infanto-juvenil,
chegou à conclusão de que a representação negativa e degradante do negro leva
a uma extrema baixa autoestima dos alunos negros: "Os instrumentos
legitimadores como família, escola e mídias tendem a desqualificar os
atributos do segmento étnico-racial negro", afirmou ela.
Municípios
brasileiros com maior população afrodescendente
Segundo dados do
recenseamento de 2000, feito pelo IBGE,[88]
dos dez municípios brasileiros com maior população preta, cinco estavam em Tocantins
e três no Piauí.
Mato
Grosso e Bahia
tiveram um município representado cada.
1) Riacho
Frio (PI) – 61,71%
2) Pugmil
(TO) – 41,35%
3) Silvanópolis
(TO) – 41,25%
4) Pedrão
(BA) – 39,42%
5) São Valério da Natividade (TO) –
36,17%
6) Vera
Mendes (PI) – 35,92%
7) Nossa Senhora do Livramento (MT)
– 35,67%
8) São Félix do Tocantins (TO) –
35,41%
9) Santa Rosa do Tocantins (TO) –
33,35%
10) Arraial
(PI) – 32,86%
Influências na cultura brasileira
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Cultura afro-brasileira
Denomina-se cultura afro-brasileira o
conjunto de manifestações culturais do Brasil que sofreram
algum grau de influência da cultura africana desde os tempos do Brasil colônia até a atualidade. A cultura da África chegou ao Brasil, em sua maior
parte, trazida pelos escravos negros na época do tráfico
transatlântico de escravos. No Brasil a cultura africana sofreu também a influência das culturas europeia (principalmente portuguesa) e indígena, de forma que características de origem
africana na cultura brasileira encontram-se em geral mescladas a outras
referências culturais.
Traços fortes da cultura africana podem ser
encontrados hoje em variados aspectos da cultura brasileira, como a música popular, a religião, a culinária, o folclore e as festividades populares. Os estados do Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados pela cultura de
origem africana, tanto pela quantidade de escravos recebidos durante a época do
tráfico como pela migração interna dos escravos após o fim do ciclo da cana-de-açúcar na região Nordeste.
Ainda que tradicionalmente desvalorizados na época
colonial e no século XIX, os aspectos da cultura brasileira de origem africana
passaram por um processo de revalorização a partir do século XX que continua
até os dias de hoje.
Índice
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Evolução histórica
De maneira geral, tanto na época colonial como
durante o século XIX a matriz cultural de origem europeia foi a mais valorizada
no Brasil, enquanto que as manifestações culturais afro-brasileiras foram
muitas vezes desprezadas, desestimuladas e até proibidas. Assim, as religiões
afro-brasileiras e a arte marcial da capoeira foram
frequentemente perseguidas pelas autoridades. Por outro lado, algumas
manifestações de origem folclórico, como as congadas, assim como
expressões musicais como o lundu, foram toleradas e até estimuladas.
Entretanto, a partir de meados do século XX, as
expressões culturais afro-brasileiras começaram a ser gradualmente mais aceitas
e admiradas pelas elites brasileiras como expressões artísticas genuinamente
nacionais. Nem todas as manifestações culturais foram aceitas ao mesmo tempo. O
samba foi uma das
primeiras expressões da cultura afro-brasileira a ser admirada quando ocupou
posição de destaque na música popular, no início do século XX.
Posteriormente, o governo da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas desenvolveu políticas de incentivo do nacionalismo nas quais a cultura
afro-brasileira encontrou caminhos de aceitação oficial. Por exemplo, os
desfiles de escolas de samba ganharam nesta época aprovação
governamental através da União Geral das Escolas de Samba do Brasil, fundada em 1934.
Outras expressões culturais seguiram o mesmo
caminho. A capoeira, que era considerada própria de bandidos e
marginais, foi apresentada, em 1953, por mestre Bimba ao presidente Vargas, que então a chamou de "único esporte
verdadeiramente nacional".
A partir da década de 1950 as perseguições às religiões
afro-brasileiras
diminuíram e a Umbanda passou a ser seguida por parte da classe média
carioca. Na década seguinte, as religiões afro-brasileiras passaram a ser
celebradas pela elite intelectual branca.
Em 2003, foi promulgada
a lei nº 10.639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), passando-se a exigir que as escolas brasileiras
de ensino fundamental e médio incluam no currículo o ensino da
história e cultura afro-brasileira.
Estudos afro-brasileiros
O interesse pela cultura afro-brasileira
manifesta-se pelos muitos estudos nos campos da sociologia, antropologia, etnologia, música e linguística, entre outros, centrados na expressão e evolução
histórica da cultura afro-brasileira.[2]
Muitos estudiosos brasileiros como o advogado Edison Carneiro, o médico legista Nina Rodrigues, o escritor Jorge Amado, o poeta e escritor mineiro Antonio Olinto, o escritor e jornalista João Ubaldo, o antropólogo e museólogo Raul Lody, entre outros, além de estrangeiros como o sociólogo francês Roger Bastide, o fotografo Pierre Verger, a pesquisadora etnóloga estadunidense Ruth Landes, o pintor argentino Carybé, dedicaram-se
ao levantamento de dados sobre a cultura afro-brasileira, a qual ainda não
tinha sido estudada em detalhe[3].
Alguns infiltraram-se nas religiões
afro-brasileiras, como é
o caso de João do Rio, com esse propósito; outros foram
convidados a fazer parte do Candomblé como membros efetivos, recebendo cargos honorificos como Obá de Xangô no Ilê Axé Opô Afonjá e Ogan na Casa Branca do
Engenho Velho, Terreiro do Gantois, e ajudavam financeiramente a manter
esses Terreiros.
Muitos sacerdotes leigos em literatura se
dispuseram a escrever a história das religiões afro-brasileiras, recebendo a
ajuda de acadêmicos simpatizantes ou membros dos candomblés. Outros, por já
possuírem formação acadêmica, tornaram-se escritores paralelamente à função de
sacerdote, como é caso dos antropólogos Júlio Santana Braga e Vivaldo da Costa Lima, as Iyalorixás Mãe Stella e Giselle Cossard, também conhecida como Omindarewa a
francesa, o professor Agenor Miranda, a advogada Cléo Martins e o professor de sociologia Reginaldo Prandi, entre outros.
Religião
Os negros trazidos da África como escravos
geralmente eram imediatamente batizados e obrigados a seguir o Catolicismo. A conversão era apenas superficial e as religiões de origem africana
conseguiram permanecer através de prática secreta ou o sincretismo com o catolicismo.
Algumas religiões
afro-brasileiras ainda
mantém quase que totalmente suas raízes africanas, como é o caso das casas
tradicionais de Candomblé e do Xangô do Nordeste; outras formaram-se através do sincretismo religioso, como o Batuque, o Xambá e a Umbanda. Em maior ou
menor grau, as religiões afro-brasileiras mostram influências do Catolicismo e da encataria europeia, assim como da pajelança ameríndia[4]. O sincretismo manifesta-se igualmente na tradição do batismo dos filhos e
o casamento na Igreja Católica, mesmo quando os fiéis seguem abertamente uma religião afro-brasileira.
Já no Brasil colonial os negros e mulatos,
escravos ou forros, muitas vezes associavam-se em irmandades religiosas
católicas. A Irmandade da Boa Morte e a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foram das mais importantes, servindo também
como ligação entre o catolicismo e as religiões afro-brasileiras. A própria
prática do catolicismo tradicional sofreu influência africana no culto de
santos de origem africana como São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio de
Categeró ou Santo Antônio Etíope);
no culto preferencial de santos facilmente associados com os orixás africanos como
São Cosme e Damião (ibejis), São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro), Santa Bárbara (Iansã); na criação de
novos santos populares como a Escrava Anastácia; e em ladainhas, rezas (como a Trezena de Santo Antônio) e festas religiosas (como a Lavagem do Bonfim onde as escadarias da Igreja de Nosso
Senhor do Bonfim em Salvador, Bahia são lavadas com
água de cheiro pelas filhas-de-santo do candomblé).
As igrejas pentencostais do Brasil, que combatem as religiões de origem africana, na
realidade têm várias influências destas como se nota em práticas como o batismo
do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entidades espirituais
(vistas como maléficas). Enquanto o Catolicismo nega a existência de orixás e guias, as igrejas pentencostais acreditam na sua existência, mas como demônios.
Segundo o IBGE, 0,3% dos
brasileiros declaram seguir religiões de
origem africana, embora
um número maior de pessoas sigam essas religiões de forma reservada.
Inicialmente desprezadas, as religiões afro-brasileira
foram ou são praticadas abertamente por vários intelectuais e artistas
importantes como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia (que freqüentavam o terreiro de Mãe Menininha), Gal Costa (que foi iniciada para o Orixá Obaluaye), Mestre Didi (filho da iyalorixá Mãe Senhora), Antonio Risério, Caribé, Fernando Coelho, Gilberto Freyre e José Beniste (que foi iniciado no candomblé ketu).
Religiões afro-brasileiras
Candomblé - Em todos estados do Brasil
Umbanda - Em todos
estados do Brasil
O Alaká africano, conhecido como pano da costa no Brasil é produzido por tecelãs do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, no espaço chamado de Casa do Alaká[5]. Mestre Didi, Alapini (sumo
sacerdote) do Culto aos Egungun e Assògbá (supremo
sacerdote) do culto de Obaluaiyê e Orixás da terra, é também escultor e seu trabalho é voltado inteiramente para a
mitologia e arte yorubana.[6] Na pintura foram muitos os pintores e desenhistas que se dedicaram a mostrar a beleza
do Candomblé, Umbanda e Batuque em suas
telas. Um exemplo é o escultor e pintor argentino Carybé que dedicou
boa parte de sua vida no Brasil esculpindo e pintando os Orixás e festas nos
mínimos detalhes, suas esculturas podem ser vistas no Museu Afro-Brasileiro e tem alguns livros publicados do seu
trabalho. Na fotografia o francês Pierre Fatumbi Verger, que em 1946 conheceu a Bahia e ficou até o
último dia de vida, retratou em preto e branco o povo brasileiro e todas as nuances do Candomblé, não satisfeito só em fotografar passou a fazer parte da religião, tanto
no Brasil como na África onde foi iniciado como babalawo, ainda em
vida iniciou a Fundação Pierre Verger em Salvador, onde se encontra todo seu
acervo fotográfico.
Culinária
A feijoada brasileira, considerada o prato nacional do Brasil,
é frequentemente citada como tendo sido criada nas senzalas e ter servido de
alimento para os escravos na época colonial. Atualmente, porém, considera-se a
feijoada brasileira uma adaptação tropical da feijoada portuguesa que não foi
servida normalmente aos escravos. Apesar disso, a cozinha brasileira regional
foi muito influenciada pela cozinha africana, mesclada com elementos culinários
europeus e indígenas.
A culinária baiana é a que mais demonstra a
influência africana nos seus pratos típicos como acarajé, caruru, vatapá e moqueca. Estes pratos
são preparados com o azeite-de-dendê, extraído de uma palmeira africana trazida ao Brasil em tempos coloniais.
Na Bahia existem duas maneiras de se preparar estes pratos "afros".
Numa, mais simples, as comidas não levam muito tempero e são feita nos
terreiros de candomblé para serem oferecidas aos orixás. Na outra
maneira, empregada fora dos terreiros, as comidas são preparadas com muito
tempero e são mais saborosas, sendo vendidas pelas baianas do acarajé e degustadas em restaurantes e
residências.
Música e dança
A música criada pelos afro-brasileiros é uma
mistura de influências de toda a África subsaariana com elementos da música portuguesa e, em
menor grau, ameríndia, que produziu uma grande variedade de estilos.
A música popular brasileira é fortemente
influenciada pelos ritmos africanos. As expressões de música afro-brasileira
mais conhecidas são o samba, maracatu, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada, maxixe, maculelê.
instrumentos de manifestações culturais como:
agogô, abe, berimbau, alfaias, ainda são amplamente utilizados e estão
diretamente ligados aos negros.
Como aconteceu em toda parte do continente
americano onde houve escravos africanos, a música feita pelos afro-descendentes
foi inicialmente desprezada e mantida na marginalidade, até que ganhou
notoriedade no início do século XX e se tornou a mais popular nos dias atuais.[7]
Instrumentos afro-brasileiros
Referências
↑ Encantaria maranhense: um encontro do negro, do índio e
do branco na cultura afro-brasileira arq.Doc
Ligações externas
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